O futuro da profissão Docente - conferência sindical europeia em Viena

27-11-2014

O futuro da profissão Docente - conferência sindical europeia em Viena

Começou hoje - 26 de novembro - em Viena a conferência de médio prazo da Internacional da Educação - Região Europa (Comité Sindical Europeu de Educação), sob o lema "O futuro da profissão docente".

Estão a participar nesta conferência 208 delegados de 83 organizações sindicais de 42 países europeus, sendo a FNE representada pelo secretário-geral João Dias da Silva e pela vice secretária geral Lucinda Manuela Dâmaso.

A primeira intervenção desta conferência foi de Fred Van Leeuwen, Secretário-Geral da Internacional da Educação (IE), o qual começou o seu discurso lembrando as recentes decapitações de jovens pelos criminosos do Estado Islâmico, questionando o que pode ter feito com que cerca de 3000 jovens educados no âmbito da sociedade ocidental tenham transitado para um regime de violência, para um extremismo como aquele que horrorizou as nossas consciências, perguntando que razões terá havido para que a falta de esperança das nossas sociedades os tenha lançado para soluções de mero endoutrinamento.

Foi com base nesta reflexão que questionou o futuro da profissão docente, recordando as orientações definidas no documento de Jacques Delors que definiu os quatro pilares da educação para o século XXI, dizendo que, na sua perspetiva, eles não estão a ser inteiramente cumpridos.

Nesta intervenção inicial, o secretário geral da IE enunciou vários fatores que hoje marcam negativamente o exercício da profissão docente, a que acrescentou o resultado de investigações que demonstram o sentimento generalizado dos professores de que a sua opinião não é tida em conta a propósito da definição das políticas educativas.

Fred Van Leeuwen sublinhou a importância de combater a desprofissionalização docente, impedindo que as decisões relativas ao trabalho dos professores sejam tomadas por outros que não os professores em exercício.

Nesta intervenção, Fred Van Leeuwen denunciou e assinalou a importância de acompanhar as negociações em curso com vista a um Tratado de Comércio entre a União Europeia e os EUA, onde a educação é considerada como um bem comercial, transacionável, para que este conteúdo educativo seja retirado dessas negociações.

O secretário geral da IE assinalou depois a importância da campanha da IE que está em curso a propósito da exigência de educação de qualidade para todos e que 2015 tem de ser mesmo o ano em que em todo o mundo todas as crianças tenham direito e estejam na escola, considerando fundamental o investimento de todos os sindicatos na campanha em curso de recolha de assinaturas para as entregar na ONU dentro de um ano.

Assinalou depois negativamente que a democracia e o primado da lei não são ainda um adquirido em todo o mundo, para o que é fundamental que os europeus não desprezem a sua responsabilidade solidária de os garantir.

A Conferência prosseguiu com aspetos estatutários internos, após o que se entrou no debate da questão central, centrada no lema escolhido para esta iniciativa.

A abrir, Martin Rømer, o diretor europeu da IE-Europa, fez a intervenção seguinte com a apresentação do tema da Conferência, identificando as razões que conduziram à escolha deste tema, sublinhando os exemplos de situações várias em muitos países que representam diminuição das condições salariais ou de consideração pela sociedade.

Identificou como orientação para todos os países a necessidade de investir efetivamente, sustentavelmente e de modo inteligente na educação.

Referiu seguidamente o debate essencial sobre o impacto das novas tecnologias na vida das pessoas e os efeitos que esta nova realidade terão para a profissão docente.

Na sua intervenção de partida, Martin Rømer referiu-se ao diálogo social, mas questionou os sindicatos sobre a dimensão da sua efetiva representatividade, sobre se nos adaptamos às alterações estruturais que estão em curso, se envolvemos a diversidade de situações em que há professores, se nos apresentamos com credibilidade para participarmos no diálogo social.

A conferência prosseguiu com uma apresentação de John Mac Beath, Professor emérito da Universidade de Cambridge, o qual se referiu ao financiamento público e aos partenariados público-privados para a educação do futuro, tendo identificado alguns problemas que podem decorrer daqueles partenariados.

A seguir a reflexão foi para as competências para a vida, registando o facto de muitas aprendizagens serem feitas fora das escolas e de não haver correspondência entre o que se aprende na escola e o que o mercado do trabalho pede como formações atualizadas.

A intervenção deste convidado passou depois pelas consequências destas reflexões em termos do que deve ser a valorização dos professores e o reconhecimento da importância da sua participação nas decisões que dizem respeito às políticas educativas, terminando com a referência a aspetos que relevam a importância das lideranças educativas.

Os trabalhos prosseguiram com a intervenção de Xavier Prats-Monné, diretor gral da direção geral de educação e cultura da Comissão Europeia, o qual sublinhou que a qualidade de um sistema educativo não é maior do que a qualidade dos seus professores, defendendo que o futuro da educação não se desliga do que é que se entende que se deve aprender, quer a título individual, quer para a sociedade. Desta forma, e para este orador, a forma de transmitir conhecimentos é cada vez mais diferente, e que é preciso estar atento para a eventualidade de o professor deixar de ser o representante do conhecimento. Não deixou de assinalar como fundamental o Incremento do estatuto profissional dos professores, assegurando que se criem incentivos que não sejam só dinheiro, de forma que a profissão seja respeitada e atrativa para docentes qualificados.

Nesta intervenção, o representante da CE disse ainda que é preciso repor a segurança e a confiança no futuro dos nossos sistemas educativos, assinalando como muito importante que se evite a comercialização da educação.

O primeiro dia de trabalhos integrou ainda o início da discussão do projeto de resolução preparado pelo comité do CSEE, sobre o futuro da profissão docente, tendo sido também apresentado pelo sindicato grego da educação um projeto de resolução sobre o impacto das políticas neo-liberais na educação.

Ainda no primeiro dia de trabalhos, houve lugar para uma apresentação sobre "A inovação e a profissão docente do futuro - recursos educativos livres para todos professores em 2030?", da responsabilidade de duas investigadoras do Instituto de Estudos Tecnológicos Prospetivos (do centro comum de investigação europeia, em Espanha).

Os trabalhos do primeiro dia terminaram com a apresentação, debate e adoção de dois documentos políticos do CSEE, um sobre a "Garantia da qualidade no ensino superior" e um outro sobre os jovens investigadores e doutorandos.