26-9-2022
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A FNE e a AFIET (Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho) promoveram a 23 de setembro de 2022 o Webinário "Desenvolvimento psicológico, família, educação e intervenção". Ana Rodrigues da Costa (Universidade Fernando Pessoa) foi a oradora convidada, numa sessão que contou com o Professor Doutor Rui Maia, do Centro de Formação da FNE, na moderação.
Numa primeira abordagem, a Professora, reconhecida pelas suas publicações relativas a este tema, começou por apresentar aos participantes a "teoria dos sistemas ecológicos". Esta é uma ideia sustentada num sistema que gira em volta da pessoa e que é defendida por Urie Bronfenbrenner, psicólogo americano nascido na Rússia.
São vários os fatores a ter em conta no sistema ecológico num sentido micro, tais como a família, a escola, os amigos, a religião, serviços de saúde, vizinhos e outros. Depois podemos ir, como referiu a oradora, ao macro sistema, que já se vai basear nas atitudes e ideologias que a cultura de cada local ou família proporciona.
Ana Rodrigues da Costa levou-nos depois até ao universo do exosistema que, ainda com base no modelo de Bronfenbrenner, é onde a criança começa a aprender emoções, até por imitação daquilo que a rodeia.
A professora da Universidade Fernando Pessoa falou sobre "desenvolvimento cognitivo", levando-nos até à indispensável teoria de Piaget e aos seus quatro estágios cognitivos. No primeiro nível, que situa crianças dos 0-2 anos, as capacidades desenvolvidas são relativamente aos sentidos e manipulação de objetos. É o chamado "Estágio 1 Sensório-Motora".
Segue-se o "Estágio 2 Pré-Operacional", que se situa em crianças dos 2-7 anos e que já proporciona uma compreensão sobre a ideia de passado e futuro, assim como imaginação e memória. Dos 7-11 anos (“Estágio 3 Operacional Concreto”), a teoria de estágios cognitivos de Piaget permite perceber que já existe um consciente sobre "os outros" e eventos externos, assim como ser o nível em que se dá início ao pensamento lógico.
A fechar, temos o "Estágio 4 Operacional Formal" em crianças dos 11 ou mais anos e que já são capazes de usar a lógica para resolver um problema, planear o futuro e perceber e ver o mundo em seu redor.
"Mas é sempre importante, a partir de determinada fase, fazer a ligação entre o teórico e o dia-a-dia. Daí, por exemplo, termos na escola a organização que temos ao nível das disciplinas lecionadas. Só existe Filosofia a partir do 10º ano, pois só aí se alcança uma capacidade de abstração", afirmou Ana Rodrigues, direcionando depois para a questão da empatia "que deve começar a ser tratada nas crianças o mais cedo possível".
Em sua opinião, "devia ser realizado um estudo longitudinal que permita ficar a conhecer e perceber como as crianças são verdadeiramente hoje em dia, como funcionam. E para isso os professores podem ter um papel essencial".
Sobre o desenvolvimento psicológico, ficou explícito, da parte da docente universitária, que "a construção da personalidade de cada um muitas vezes começa no temperamento herdado da mãe. Mas não só. Temos também influências ambientais, a educação recebida no seio da família, o reforço positivo, que por vezes falta em muitas crianças". Neste ponto, Ana Rodrigues sublinhou a importância de "darmos cada vez mais incentivos de confiança às crianças. Temos sempre tendência para criticar ou corrigir, mas raramente damos um elogio. E isso muitas vezes é a diferença entre criar um aluno com mais ou menos interesse pela escola".
A família foi apresentada como o mais poderoso sistema de socialização para um desenvolvimento saudável. Mas por vezes existe aquilo a que se convencionou chamar de "acidente de nascimento e que na prática é o viver com uma família disfuncional. A família é o primeiro espaço social e de influência no desenvolvimento infantil, seguindo-se a religião, a alimentação, a escola, a habitação e muitos outros fatores que vão influenciar a aquisição de competências".
É por isso que "o estilo parental” influencia tanto a forma como a criança se vai relacionar com os professores na escola. Segundo a especialista, "consegue-se melhor resultados com um estilo autoritativo, pois é preciso saber dizer 'não!'. Um estilo permissivo vai complicar a relação na escola. E o autoritário vai deixar as crianças mais inseguras, agressivas e receosas".
A fechar, Rui Maia lançou algumas questões colocadas pela audiência do webinário e questionou Ana Rodrigues sobre o facto de "os professores estarem, ou não, preparados para fazer este trabalho de compreender a criança/aluno e a necessidade de saber lidar com diferentes comportamentos".
A oradora retorquiu com a necessidade essencial, neste momento, "de se estudar as crianças. Fazer o tal estudo longitudinal no presente, isto porque normalmente as crianças em 1x1 têm um determinado comportamento, mas depois em grupo funcionam de outra forma. Mas acima de tudo os professores conseguiriam fazer mais se existisse uma relação melhor entre família e escola".
Reve aqui o Webinário completo
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