18-6-2021
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Victor Agüera, responsável pela Negociação Nacional do NASUWT (Reino Unido), foi o primeiro convidado do ciclo de Webinários "Sindicatos europeus respondem aos desafios da qualidade na educação", organizado pela FNE e pelo Canal4 da AFIET, com moderação de Alexandre Dias.
Dirigente de um sindicato com 300 mil associados, Victor Agüera apresentou a história do NASUWT, sublinhando que a sua organização "é um sindicato com passado e preparado para o futuro”, além de ser liderado “numa base democrática, daí a agilidade como conseguiu lidar com a pandemia”.
A apresentação do dirigente incluiu um pequeno vídeo onde a ex-presidente do NASUWT, Michelle Codrington-Rogers, afirmou que o uso intensivo das ferramentas online e o reforço de formações por via digital foram algumas das formas que o sindicato britânico utilizou para se aproximar dos seus sócios. No mesmo vídeo, Phil Kemp, Presidente do sindicato, referia que "é necessário investimento na educação pública do Reino Unido, para não se dar tanto protagonismo a esquemas diversos de privatização”.
Phil Kemp realçou que o NASUWT tem um 'tsunami' de desafios pela frente, criados pela pandemia, finalizando o seu apontamento com um agradecimento especial aos professores e restantes trabalhadores da educação, pelo esforço realizado neste último ano e meio. Victor Agüera partilhou também, com os participantes desta iniciativa, uma declaração do Secretário-Geral (SG) do NASUWT, Patrick Roach, que reafirmou a importância do futuro dos professores e elogiou o trabalho dos delegados sindicais, que “são o coração do sindicato a bater".
O responsável pela Negociação Nacional do NASUWT destacou algumas das questões que o seu sindicato enfrenta no Reino Unido, tais como a sobrecarga de trabalho que é atribuída aos professores e a falta de investimento na educação. Lá como cá, o investimento na educação é insuficiente e tem sofrido vários cortes ao longo dos últimos anos, prejudicando a qualidade do sistema educativo.
Victor Agüera recordou que o seu SG, Patrick Roach, chegou a exigir diretamente ao Ministro das Finanças um aumento do investimento, assistindo-se a um regresso das escolas a um sistema mais inclusivo e com maior segurança para todos. No Reino Unido não existe uma tradição forte de diálogo social, mas durante o tempo do governo socialista foi alcançado um acordo social histórico que, entretanto, já foi desfeito, e isso é algo que não facilita a luta sindical e obriga a seguir outros caminhos.
Alexandre Dias, moderador do webinar, lançou ao convidado algumas questões, começando pela forma como é prestado o apoio legal pelo NASUWT aos seus membros e também tentando perceber como funciona a formação inicial e a avaliação dos professores em território britânico.
Sobre a questão legal, Agüera assumiu que é algo que fica a cargo dos representantes locais do sindicato, professores que tiram algum tempo do seu trabalho semanal para lidar com algumas das questões jurídicas com que são confrontados. Mas "quando um sócio está numa situação em que esteja sujeito a despedimento, aí tem de ser um representante legal, por causa das respetivas consequências. Mas para esses casos temos pessoas com a formação adequada”.
Ao fim de cinco anos mudam de profissão
Já sobre a avaliação de desempenho, o dirigente sindical explicou que no Reino Unido ela baseia-se "numa avaliação com seis pontos na escala. Ao nível dos salários há progressão de acordo com os resultados dessa avaliação, sendo que até 2011 isso acontecia de forma automática". Pelo lado inverso, "agora há uma obsessão pela privatização e é com base no sucesso que se definem os objetivos".
Já na parte final do webinar, o moderador deixou ao convidado uma questão lançada pelos participantes sobre o rejuvenescimento da profissão, questionando "qual é a idade de um jovem professor no Reino Unido". Ao contrário dos 45 anos em Portugal, Agüera achou curiosa a questão e afirmou que "os professores jovens no Reino Unido têm entre 22 e 30 anos e mal acabam o curso universitário começam a dar aulas”.
No entanto, o grande problema no Reino Unido é conseguir que os professores continuem a trabalhar após cinco anos de serviço: “A retenção dos jovens professores é a nossa grande questão, porque a maioria abandona a carreira e mudam de profissão. Principalmente porque se trata de uma profissão muito exigente e com uma grande carga de trabalho associada. Os governos não estão a saber lidar com esta lacuna que, como todos sabemos, tem que ver com a falta de atratividade da profissão e da condição docente”.
Victor Agüera também falou da falta de professores no Reino Unido, especialmente em disciplinas como Matemática, Ciências, Físicas e Químicas, mas também em certas áreas de Humanidades.
No seu comentário final, Alexandre Dias falou na necessidade de vincarmos a mensagem de que os sindicatos estão vivos, muito ativos, e prontos para os desafios que a pós-pandemia nos vai trazer. Os mesmos sindicatos que continuam a ser a melhor ferramenta de justiça social, de solidariedade e de liberdade, ultrapassando, juntamente com os seus sócios, dificuldades por toda a Europa e no resto do mundo.
Reveja aqui a intervenção de Victor Agüera
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