23-4-2021
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António Fonseca, Presidente do MAIS Sindicato, ex-Sindicato dos Bancário do Sul e Ilhas, foi o segundo convidado do Ciclo de Webinários com Dirigentes Sindicais "Desafios aos Sindicatos na pós-pandemia", organizado pela Federação Nacional da Educação (FNE) e pela AFIET-Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho.
Sindicalista desde 2003 e Presidente do MAIS desde 2020, António Fonseca assumiu nesta intervenção online que este é um momento muito complicado para a banca. Não só pela pandemia da COVID-19, mas também por uma situação que já vinha a deteriorar-se anteriormente, devido a taxas negativas, spreads baixos e à digitalização, argumentos que têm servido para justificar os fracos aumentos de salários no setor.
Num diálogo moderado por José Ricardo Coelho, Vice-Secretário-Geral (Vice-SG) da FNE, António Fonseca começou a sua apresentação com uma breve nota sobre a história do MAIS Sindicato, deixando uma crítica à forma como a negociação coletiva ocorre atualmente: "Antigamente os administradores e dirigentes dos bancos iam às reuniões. Agora enviam advogados sem poder negocial, o que prejudica o desenvolvimento do processo de negociação".
Mas numa abordagem mais direta aos desafios futuros do sindicalismo, o presidente do MAIS defendeu que "os sindicatos têm de virar a página e reinventar-se, fazendo novas formas de sindicalismo, com estratégias novas para melhorar a sindicalização", acrescentando que o online não substitui o presencial, principalmente na contratação coletiva, em que espera “voltar rapidamente a reuniões presenciais, porque é preciso ver a cara e as expressões faciais, pois há pormenores que as máquinas não permitem".
Enquanto esse regresso presencial não acontece, António Fonseca sublinha que a comunicação é algo fundamental para o presente e também para o futuro dos sindicatos, uma vez que "estamos a aprender a comunicar de diferentes formas, na tentativa de atrair novos sócios, pois é cada vez mais difícil encontrar as pessoas no local de trabalho".
Relativamente ao momento atual do sindicalismo bancário, o convidado deste webinário deixou um lamento: "Este é um momento muito difícil para a banca, estamos a ser fustigados com uma enorme redução de trabalhadores e o futuro não parece bom. Estamos perante uma destruição da classe. E tivemos de reagir, criando canais que nos aproximam dos sócios, como por exemplo uma Linha SOS de apoio laboral para aqueles trabalhadores que, de repente, se veem sem emprego", considerando ainda que "a banca hoje em dia já não dá emprego para a vida".
Privilegiar a negociação na defesa dos trabalhadores
A luta, revela António Fonseca, tem sido feita junto das administrações, "às vezes de forma silenciosa", pois ao contrário de outros sindicatos "não vamos para a rua fazer manifestações. As pessoas têm medo e não se querem expor". Por isso "mantemos a porta do sindicato aberta. Não servimos apenas para contratação e negociação coletiva. Temos um trabalho muito nobre, que abrange outras áreas como a saúde, através dos nossos hospitais SAMS, a formação profissional ou o apoio social e jurídico".
E no meio dessa luta há entraves. Para António Fonseca "ser sindicalista não é fácil. Somos maltratados, incompreendidos, mas acho que mais tarde ou mais cedo as pessoas vão valorizar o papel dos sindicatos na democracia", realçando o papel da UGT no diálogo social, pois "não precisamos de sindicatos que andem em manifestações, mas que depois nada contribuem na mesa negocial. Privilegiamos sempre a concertação e a negociação na defesa dos nossos trabalhadores".
José Ricardo Coelho, moderador deste webinário, realçou depois o desafio extra que António Fonseca vive, ao ser eleito, em março de 2020, para a direção do MAIS, enfrentando todo o caos provocado pela pandemia. O Vice-SG da FNE colocou em seguida algumas questões de participantes, que andaram em redor de temas como a estratégia para combater o avanço tecnológico na banca, o segredo para manter estáveis os números de sindicalizações e os problemas futuros da contratação coletiva.
Para António Fonseca, a resposta àquelas questões passa, em muito, pela já referida "reinvenção dos sindicatos. E isso implica chamar gente jovem, com formas diferentes e novas de pensar. Não há segredo nenhum na sindicalização. O que há é um objetivo de chegar aos jovens nessa sindicalização", comentando que cada vez é mais difícil negociar aumentos: “Temos tentado conseguir algumas regalias com cláusulas, mas está muito difícil alcançar melhorias. A contratação é hoje muito mais complicada do que anos 70/80. Há menos abertura e temos de ser cada vez mais imaginativos".
Já sobre a questão da digitalização, o convidado da FNE/AFIET atirou que "a solução para mim, passa por requalificar os trabalhadores numa outra atividade no setor. O balcão pode vir a desaparecer, mas os bancos devem arranjar locais para os trabalhadores desenvolverem as suas tarefas. Não pode ser em casa. Aliás, fala-se em teletrabalho, mas isto para mim não é teletrabalho. É preciso regulamentar esta situação. Tentámos regulamentar no último Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), mas a banca está resistente, à espera das mudanças no Código de Trabalho".
A fechar, António Fonseca deixou o alerta de que "a banca nunca vai mais vai voltar a ser igual ao que era antes da pandemia. Não sei o que vem aí, mas sei o que está a acontecer, que é uma brutal redução de trabalhadores. A banca sempre esteve na vanguarda da tecnologia, mas não é possível ter um serviço 100% automatizado. O desafio do futuro pode mesmo passar por novas categorias, em que os sindicatos devem apostar para encaixar os trabalhadores retirados dos balcões".
Reveja aqui a intervenção de António Fonseca e leia a reportagem completa sobre este webinário na edição de abril de 2021 do JORNAL FNE.
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