Júlio Pedrosa: "A valorização da profissão docente tem de estar na agenda social e política"

12-2-2021

Júlio Pedrosa:

O Professor Júlio Pedrosa, Presidente do Conselho Geral do ISCTE e Ministro da Educação entre 2001 e 2002, foi o segundo convidado do ciclo de Webinários "Que caminhos para a escola na pós-pandemia", organizado pela Federação Nacional da Educação (FNE) e pelo Canal4 da AFIET (Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho). Na moderação estiveram João Dias da Silva (Secretário-Geral da FNE e Presidente da Direção da AFIET) e Josefa Lopes (Presidente do SDPSUL e membro do Secretariado Nacional da UGT, pela FNE).

Júlio Pedrosa deixou na sua intervenção várias ideias sobre os desafios que a pandemia de COVID-19 está a deixar para a escola não só no presente, como também para o futuro. Desde logo ao destacar o facto de que “a educação é o recurso mais preparado para arranjar soluções para os impactos que este tempo está a criar e que não podem ser enfrentados como circunstâncias transitórias". Daí afirmar, com toda a propriedade, que “a pandemia tem mesmo que ser fonte de inspiração”.

Depois na medição das consequências do encerramento das escolas. Segundo Júlio Pedrosa, a diversidade em Portugal já era um desafio que agora se acentuou, aumentando as desigualdades e obrigando a uma gestão diferente da educação a distância e da utilização das tecnologias, provocando ainda a necessidade de se proceder a ajustamentos nos currículos e a uma formação continuada, adaptada a cada momento. “Temos que olhar para os futuros invisíveis”, argumenta Júlio Pedrosa. “Não podemos pensar o futuro sem olharmos para o futuro das metodologias”.

O orador convidado defendeu ainda que deve entrar na agenda sindical um debate sobre uma maior interação entre as escolas e o ensino superior, de forma que proporcione o desenho de um programa de formação contínua com soluções de proximidade. Tudo isso deve passar “por políticas de envolvimento e por chamadas de atenção sistemáticas para a sociedade. Mas também por dotar as escolas de autonomia, para que aprofundem um sistema educativo diversificado”.

Para o ex-Ministro da Educação, nada disto se consegue sem que exista uma valorização e reconhecimento dos profissionais da educação. Por isso as propostas para os vários desafios devem chegar ao debate social e político, de modo que esta oportunidade sirva para alcançar uma estratégia, que permita aumentar a qualidade na educação.

“Temos que investir mais nas lideranças. E a educação a distância tem que estar na agenda, para reforçar o ensino que se faz na sala de aula”. Júlio Pedrosa defende uma escola primária de seis anos e reforça que a melhoria e qualidade continuadas da educação são a grande prioridade do nosso sistema educativo.

“Vamos ter crianças diferentes depois da pandemia”, avisa Júlio Pedrosa. “E não podemos esquecer a formação dos pais e encarregados de educação. Temos de criar boas políticas de envolvimento das famílias com as escolas. A confiança mútua é o bem mais escasso da sociedade portuguesa. E deixo aqui um caminho: procurem as metodologias, não as tecnologias”.

 “Temos que meter pés ao caminho”, concluiu João Dias da Silva.

 

Reveja aqui a intervenção de Júlio Pedrosa e leia a reportagem completa sobre este webinário na edição de fevereiro de 2021 do JORNAL FNE.