27-8-2015
No caso dos professores a desvalorização do trabalho docente é assinalada como principal fonte de stress. Também os trabalhadores não docentes apresentam cada vez mais situações de stress, em função da precariedade nas condições de trabalho e da nova realidade do trabalho efetuado em contexto escolar.
Consciente deste facto e da ausência de medidas concretas que possam contrariar esta influência negativa no sistema educativo português, a FNE - Federação Nacional da Educação, em parceria com a MGEN - uma das principais mútuas de saúde da Europa - realizam uma Campanha de Saúde que vai alertar os profissionais da educação para o impacto do stress, dos problemas da voz e das lesões músculo-esqueléticas no seu quotidiano. A iniciativa que versará sobre os três temas acima assinalados pretende sensibilizar os profissionais da educação para estas questões e para a necessidade de intervir junto do Governo, no sentido de verem criados mecanismos de proteção destes trabalhadores.
As sessões de esclarecimento e debate junto dos profissionais vão prolongar-se pelos próximos meses.
Os fundamentos da campanha
Em Portugal, estudos recentes revelam que 30% dos docentes têm níveis elevados de burnout e 20% apresentam níveis médios. Há uma relação direta entre o elevado nível de burnout e os baixos níveis de satisfação no trabalho.
A prevalência de problemas de voz é igualmente elevada, sendo que 85% dos docentes nunca tiveram qualquer treino vocal durante o seu percurso profissional e a prevalência de uma perturbação vocal profissional situa-se nos 37 %. O impacto económico dos problemas da voz está avaliado numa quantia superior a 4 500 milhões de euros.
Stress e burnout
É reconhecido por todos, e sustentado em vários estudos nacionais e internacionais, que o trabalho dos professores está associado a elevados níveis de pressão. O bem-estar dos professores é considerado essencial para o sucesso de todo o projecto educativo. Tendo em conta todas as mudanças sociais e políticas dos últimos anos o stress dos docentes e os casos de burnout devem constituir uma preocupação de todos os que defendem um ensino de qualidade.
O stress e o burnout em professores têm sido associados com inúmeras variáveis relacionadas com o seu desempenho, entre elas destacam-se: os baixos salários; a precariedade das condições de trabalho; a grande exigência de tarefas burocráticas; o elevado número de turmas e de alunos; o mau comportamento dos
alunos; a falta de formação e competências face a situações novas; a pressão de tempo para o desempenho das tarefas; as exigências na relação com alunos e pais.
Um estudo piloto elaborado pelo Comité Sindical Europeu para a Educação (CSEE) foi realizado em 2011 em 30 países da União Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre. O inquérito, incluído no relatório European - Wide Survey on Teachers Work Related Stress - Assessment, Comparisonand Evaluation of the Impacto f Psychosocial Hazards on Teachers and their Workplace, foi distribuído por 716 escolas, num total de 42,600 professores. Responderam a esta solicitação 5461 professores de 499 escolas. Em Portugal responderam 247 docentes. Os resultados revelaram que 41% dos professores portugueses assinalaram um clima de insegurança. Os professores com turmas com mais de 25 alunos apresentam mais sintomas de stress e há uma relação direta entre o stress e os conflitos no trabalho.
Em Portugal o tema serviu de base a um trabalho de investigação a cargo das investigadoras Ivone Patrão e Joana Santos Rita, da Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), que amavelmente autorizaram a FNE a divulgar os resultados.
As duas investigadoras inquiriram mais de 800 professores, numa amostra constituída, sobretudo, por professores com uma média de idades de 45 anos, efetivos na função pública, com uma média de 18 anos na docência. A maioria são mulheres. A investigação prossegue, mas os primeiros resultados, que reportam a 2012, revelaram resultados significativos que importa destacar:
Problemas da Voz
Os resultados preliminares do rastreio de voz a 325 professores, educadores e formadores em estabelecimentos de toda a zona norte do país, levados a cabo durante a Campanha Defende a Tua Voz, do Centro de Formação Profissional do SPZN - Sindicato de Professores da Zona Norte.
85 % dos professores que responderam a este rastreio de voz nunca tiveram qualquer treino vocal durante o seu percurso profissional. Quanto à frequência de problemas de voz, as maiores percentagens notaram-se uma vez por mês, três vezes por ano e uma vez por semana, respetivamente, enquanto no grau de problema de voz (limitação profissional), verificou-se uma prevalência de perturbação vocal profissional à volta de 37 %. O impacto económico dos problemas da voz está avaliado numa quantia superior a 4 500 milhões de euros.
Lisboa, 13 de maio de 2015
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