Indicadores da OCDE apontam para a valorização urgente da carreira docente

A OCDE acaba de publicar o “Education At A Glance 2023” - EAG (“Panorama sobre a Educação 2023”), um compêndio anual de estatísticas comparáveis sobre a educação de países e outros parceiros daquela organização internacional, de que Portugal faz parte.

O EAG é a fonte de dados mais confiável publicada todos os anos sobre a estrutura, financiamento e desempenho dos sistemas educativos nos países da OCDE e nas economias parceiras.

A publicação oferece uma grande e variada quantidade de indicadores, mas não formula quaisquer tipos de juízos e/ou recomendações de política educativa. A edição de 2023 tem um foco especial no tema do Ensino e Formação Profissional (EFP), que a OCDE considera uma verdadeira alternativa à educação académica.

E com muitos prevendo uma revolução no emprego através da Inteligência Artificial, com milhões de empregos a serem automatizados nos próximos anos, o EFP só poderá tornar-se cada vez mais relevante.

O aumento do acesso à formação profissional será fundamental para garantir que mais jovens possam satisfazer a crescente procura de trabalhadores qualificados e adaptar-se e beneficiar das profundas mudanças impulsionadas pelas transformações ecológica e digital.

O EAG indica que 44 % de todos os estudantes do ensino secundário superior estão inscritos no EFP em toda a OCDE. Apesar desta elevada percentagem, os programas profissionais continuam a ser vistos como um último recurso em demasiados países.

Os indicadores oferecidos fornecem informações essenciais sobre os resultados das instituições de ensino; o impacto da aprendizagem nos países; o acesso, a participação e a progressão na educação; os recursos financeiros investidos na educação; e sobre os professores, o ambiente de aprendizagem e a organização das escolas.

De acordo com a publicação, professores bem qualificados e motivados são essenciais para sistemas educativos fortes, mas demasiados países continuam a dar prioridade a turmas mais pequenas em detrimento do aumento da qualidade dos professores e de tornar as carreiras docentes mais atrativas e valorizadas, incluindo nos salários.

Especialmente tendo em conta que muitos países da OCDE, a exemplo de Portugal, enfrentam uma escassez de professores. Os salários médios no ensino primário são 13% inferiores aos de outros trabalhadores com ensino superior. E para os professores do ensino secundário, a diferença é ainda de 5%.

O EAG também disponibiliza uma panorâmica individual das principais características dos sistemas educativos, incluindo o de Portugal. A matéria salarial é crucial para cativar os jovens para a profissão docente. Na análise comparativa entre países, os docentes portugueses (particularmente os do 3º ciclo) surgem numa posição inferior aos seus colegas da OCDE.

Porém, numa comparação com os salários de outras profissões em Portugal, os docentes nacionais aparecem numa posição superior, em relação à média de outros trabalhadores com formação superior.

O EAG 2023 sugere que os países devem aumentar as oportunidades de progressão na carreira, reduzir a carga de trabalho administrativo dos professores, melhorar a imagem pública dos professores e aumentar os salários, a fim de atrair pessoal docente de elevada qualidade.