Fórum FNE 2017. Assumir o compromisso da educação com a mudança

6-11-2017

Fórum FNE 2017. Assumir o compromisso da educação com a mudança
O primeiro dia do Fórum FNE 2017 (2 de novembro) decorreu no Auditório do Sindicato dos Professores da Zona Norte (SPZN) e promoveu a apresentação e debate de ideias sobre os desafios que o futuro traz à Educação.

Na declaração de abertura, o Secretário-Geral (SG) da FNE, João Dias da Silva, chamou à conversa várias questões como 'qual o papel de novos atores na forma como o ensino tem de responder a novos apelos', refletindo também sobre o novo perfil de alunos, da escola e de professores. O SG deixou também o recado de que a FNE está atenta quanto ao OE 2018 e que são inaceitáveis as medidas contra os professores portugueses.

Lançada que estava a conversa, foi possível ouvir a Presidente do Sindicato dos Professores da Zona Norte, Lucinda Manuela Dâmaso, falar sobre os desafios da educação, no que foi secundada no tema pelo Presidente da FNE, Jorge Santos, que reforçou a necessidade de entender qual o papel e lugar do professor na relação professor/aluno, deixando ainda claro que é cada vez mais necessário os alunos identificarem-se com o professor.

A Câmara Municipal do Porto esteve representada no Fórum pelo Vereador da Educação, Dr. Fernando Paulo, que deixou a declaração de interesses sobre o apoio da Autarquia nas questões da educação: 'Estamos abertos ao diálogo. Só com participação crítica e de todos é que podemos melhorar. E todos somos poucos', referiu. O representante autárquico deixou ainda objetivos de mudança: promover igualdade, cultura, coesão social e ter a escola pública ao serviço de todos, sendo que para atingir esses fins é necessário, na sua óptica, 'criar uma visão estratégica para o futuro, unir instituições, envolver autarquias, descentralizar competências ligadas à Educação, de forma que cada um cumpra o seu papel, mas tendo a escola como pilar central', finalizando a sua intervenção com um 'contem com a Câmara Municipal do Porto'.

Em seguida, o Professor Doutor Alexandre Quintanilha, reforçou a necessidade que o ensino tem de transmitir conhecimento, procurando 'avançar nas fronteiras do conhecimento', de forma que os futuros cidadãos estejam 'preparados para as descontinuidades, para as dúvidas que o futuro oferece, sendo que o nosso desafio é lidar e incorporar essas descontinuidades e fazer com que os alunos sejam cada vez mais curiosos, imaginativos e que adquiram auto-confiança. No fundo, 'infetar' os jovens com curiosidade e conhecimento', acrescentou.

Fechadas que ficaram as declarações de abertura, o Fórum recebeu o primeiro convidado: o Doutor Paulo Pereira de Almeida, do ISCTE, que cumpriu a sua declaração com apoio num estudo da Fundação Manuel Leão que apresentava aquilo que o sociólogo chamou como 'perplexidades'. Alguns dos números do estudo mostraram que os professores mantêm a paixão pelo ensino e consideram essa a razão principal para ensinar, dizendo também que ensinar a Arte e viver a profissão são também outros motivos. Quanto à apreciação da Educação em Portugal, o estudo apresentou 64% a dizerem que piorou e 58,9% dizem que o que mais os insatisfaz é a falta de respeito dos alunos.


UNSA apresenta desafios
da educação em França

O representante do ISCTE trouxe ao debate alguns exemplos dos EUA que deixaram à vista os principais problemas dos docentes portugueses em comparação com os norte-americanos, como o facto de a sociedade portuguesa não saber dos problemas dos professores, a falta de formação forte dos professores e de profissionalização. Paulo Pereira de Almeida disse que 'é preciso criar mais respeito pela profissão mudando a imagem da mesma, criar novas iniciativas como o Dia Nacional do Professor ou entrega de prémios anuais, valorizando assim as funções dos docentes', disse.

A intervenção seguinte ficou a cargo dos comentadores. Pedro Barreiros foi quem abriu o painel, criticando abertamente o OE2018 que não valoriza em nada a classe docente. Após isso, comentou os números apresentados na intervenção anterior referindo 'que a distância da paixão à frustração é curta', dizendo ainda que 'em 30 anos a educação deu saltos enormes, mas a tendência de resposta é pior', chamando ainda a atenção para a necessidade de apostar em formação contínua.

Paulo Barata trouxe à discussão o ensino no interior, onde leciona, dizendo o quanto é um desafio diferente e o quanto é complicado gerir a vida diária entre deslocações longas e pais que 'descarregam os miúdos na escola', referindo ainda que 'há vários países dentro do país e é preciso dar atenção ao interior'.

A manhã de intervenções terminou com Paulo Fernandes, que identificou como principal problema da Educação o 'desorçamentar para beneficiar o negócio privado', afirmando ainda que a estratégia de desvalorização dos professores não faz bem à sociedade e que 'parece que a educação piorou, mas não: o abandono escolar diminuiu e a proficência aumentou', terminando dizendo que 'os políticos dizem ter muita paixão, mas eu não entendo se têm paixão ou interesse, como diz a anedota'.

A parte da tarde da sessão iniciou com a participação de Susan Flocken, Directora do Comité Sindical Europeu da Educação (CSEE), que veio falar sobre os desafios sindicais na Europa. Sob a moderação de Alexandre Dias, Susan Flocken salientou que o CSEE representa 132 sindicatos europeus da educação, em 50 países, e 11 milhões de filiados em toda a Europa. A Diretora do CSEE afirmou que o Comité representa a voz dos professores nas instituições europeias e que a Comissão Europeia é obrigada a consultá-lo antes da tomada de decisões. Susan falou ainda sobre a forma de integração dos refugiados na Educação, algo que é um desafio do presente e para o futuro da Educação Europeia, assim como impedir que se reduzam recursos, esperando que a qualidade se mantenha.

A fechar o primeiro dia esteve a grande novidade deste Fórum 2017: uma representação da UNSA, União de Sindicatos Franceses da Educação, que veio apresentar o sistema educativo francês aos participantes da sessão.

Entre vários outros pontos, que poderá conhecer melhor no nosso jornal de novembro, destacamos a proximidade em políticas sindicais entre a FNE e esta federação; o facto de existirem poucas vagas para professores; o volume horário ser o mais elevado da OCDE, mas sem bons resultados; existe confiança das instituições nos professores, o que faz com que tenham liberdade de tempo e a nível pedagógico; os salários baseiam-se no índice da função pública, com o salário médio do nível básico a ser de 1200 euros; os professores franceses sobem de escalão a cada 3 anos, com o consequente aumento de salário; as escolas são geridas por autarquias e o orçamento é adaptado da região, existindo um diretor regional, normalmente não docente; os pais têm um papel importante no sistema educativo gaulês; existe muito trabalho invisível entre professores, pais e alunos. A intervenção dos elementos da UNSA, que foi moderada por Joaquim Santos, terminou com uma frase: 'todos querem uma escola que nunca existiu. Os governos quebram sempre as políticas anteriores e assim não há uma continuidade', finalizaram.

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Inovação em marcha
em dois agrupamentos

O segundo dia abriu com a participação do Eng. Gonçalo Lobo Xavier, Vice-Presidente do Comité Económico e Social Europeu (CESE), que enumerou os desafios que na sua perspetiva enfrenta a Formação Profissional, indicando que é fundamental a motivação dos jovens, encontrar as pessoas certas para dar Formação, sendo que esses também têm que possuir bases educativas de realce. O Engenheiro realçou que 50% dos postos de trabalho atuais vão desaparecer, mas que novos virão e é preciso adequar o sistema educativo a essas novas profissões, não esquecendo que o desafio passa também por oferecer novos serviços a profissões mais antigas.

O vice-presidente do CESE terminou dizendo que é necessário retirar carga burocrática aos professores, algo que os desvia do foco principal do ensino. Este tema foi moderado por Lucinda Manuela Dâmaso, que reforço a ideia de que a procura pela diminuição do défice não pode hipotecar o futuro da Educação.

Em seguida o Doutor Fernando Egídio Reis agarrou o tema do novo perfil do aluno, dizendo que esse perfil, ao longo dos anos, foi sofrendo divergências profundas e que é tempo de o fazer convergir com o da nova Escola e do novo Professor. Apenas estabilizando as políticas educativas é possível posicionar os professores, criar dinâmicas globais, fixar finalidades e prioridades. Este ponto contou com a moderação da Dra. Maria José Rangel, que afirmou a necessidade de criar um modelo para quem toma decisões e dar cada vez mais importância ao conhecimento.

O Fórum terminou com os testemunhos de duas escolas convidadas para falar sobre o tema 'Inovação em marcha'. Mário Rocha, professor do Agrupamento de Escolas de Cristelo (Paredes), mostrou como a criação de ambientes de inovação, uma nova matriz curricular ou a estimulação do espírito crítico são formas encaradas como solução para uma escola de futuro, mas já aplicada no presente.

Vários são os pontos em comum com a visão apresentada por Cesário Silva, do Agrupamento de Escolas da Marinha Grande Poente, destacando-se as novas matrizes de aprendizagem, o envolvimento dos alunos na experimentação, a reorganização funcional de recursos e a maior participação dos pais no sistema educativo, tudo novas formas de enfrentar o futuro na escola. Josefa Lopes, a moderadora desta intervenção, fechou o tema com a frase 'se os alunos estiverem felizes a aprender, todos estarão mais felizes'.

O encerramento do evento ficou a cargo do Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, que realçou que o programa de ação da FNE tem sido sempre combater os maus exemplos do sistema educativo e que falta divulgar o bom que se faz nas escolas. Considerou ainda ser 'inaceitável que um governo queira apagar 10 anos de trabalho dos professores, desrespeitando este trabalho', reforçando ainda que 'o governo tem até dia 27 para reconsiderar tudo isto, porque nós não desistimos!', finalizou.

Galeria de Fotos do dia 3/11/2017

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