4-6-2025
Vivemos numa era em que a informação é abundante, instantânea e, paradoxalmente, profundamente manipulável.
A comunicação social (imprensa, rádio, televisão, plataformas digitais) é, sem dúvida, um dos pilares das sociedades modernas. Mas até que ponto cumpre verdadeiramente o seu papel de informar de forma isenta e construtiva? E quando é que deixa de ser reflexo da realidade para se transformar num veículo que seleciona, distorce ou omite factos ao serviço de interesses específicos?
É uma questão desconfortável, mas necessária.
A comunicação social não se limita a transmitir factos. Ela interpreta-os, escolhe a forma como são apresentados, decide que vozes terão visibilidade e quais serão ignoradas. Essa construção editorial é, por natureza, um ato de poder. Ao decidir qual o destaque de uma notícia e o que ficará escondido nas entrelinhas, ou sequer será noticiado, a comunicação molda o que chamamos de opinião pública. Mas até que ponto essa opinião é genuinamente pública? Não será, muitas vezes, fabricada conforme interesses privados, políticos ou económicos?
Um dos sinais mais evidentes dessa tendência está na forma como diferentes atores sociais e políticos são tratados. Uns são apresentados de forma positiva, com destaque e simpatia editorial. Outros, por sua vez, são sistematicamente retratados de forma negativa, reduzidos a estereótipos, mal interpretados ou, simplesmente, ignorados. E raramente se explicam os critérios por detrás dessa diferença de tratamento. O público consome a informação sem compreender o que levou aquele ator a ser valorizado e outro a ser descredibilizado.
É evidente que muitos órgãos de comunicação têm uma linha editorial. Isso, por si só, não é necessariamente negativo. Ter uma visão clara do mundo pode significar coerência. O problema surge quando essa visão é disfarçada sob uma aparência de neutralidade. Quando a suposta imparcialidade serve para mascarar escolhas estratégicas e omissões intencionais. Quando o dever de informar cede lugar à vontade de influenciar.
Não se trata de culpar jornalistas individualmente, mas de questionar um sistema. Um sistema onde grandes grupos de media concentram poder, onde algoritmos favorecem o que gera cliques em vez do que esclarece, onde a urgência de ser o primeiro a noticiar compromete a verificação dos factos. Um sistema que simplifica a complexidade do mundo para alimentar narrativas fáceis, fomentando divisões e alimentando preconceitos, muitas vezes sem que o leitor ou o espectador perceba quem define o rumo dessas narrativas.
Impõe-se a pergunta: ao serviço de quem está, de facto, a comunicação social? Do cidadão ou de interesses ocultos por trás das manchetes? E que papel podemos nós desempenhar neste cenário?
Talvez o primeiro passo seja exatamente este: questionar. Duvidar, cruzar fontes, procurar o que não é dito, confrontar discursos. Informar-se com espírito crítico é, hoje, um ato de resistência. E exigir uma comunicação social mais transparente, ética e plural é um dever coletivo em nome da democracia e da verdade.
Porque, em última análise, a comunicação social pode ser tanto uma aliada da liberdade como uma ferramenta de alienação. A escolha e a vigilância cabem a cada um de nós.
Porto, 4 de junho de 2025
Pedro Barreiros
As opiniões expressas neste espaço são da inteira responsabilidade do autor.
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