Competências dos adultos portugueses a precisar de melhores dias

14-1-2025

Competências dos adultos portugueses a precisar de melhores dias

Portugal ficou abaixo da média da OCDE nos três domínios avaliados no Inquérito 2023 sobre competências dos adultos entre os 16 e os 65 anos de idade: literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas. O relatório “Os adultos terão as competências que precisam para prosperar num mundo em mudança” constitui a atividade central do primeiro round do 2º ciclo do Programa da OCDE para a Avaliação Internacional das Competências de Adultos (PIAAC).

Portugal ficou no penúltimo lugar nos resultados médios das competências dos adultos em matéria de literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas. O Chile ocupou o último lugar da tabela. Os dados do Inquérito às Competências dos Adultos 2023 da OCDE foram publicados em dezembro último.

Nele participaram até ao momento 31 países e economias. A Finlândia, o Japão, os Países Baixos, a Noruega e a Suécia destacaram-se nos três domínios, com percentagens significativas das suas populações adultas a demonstrarem capacidades avançadas. No entanto, em média, nos países da OCDE, 18% dos adultos não possuem sequer os níveis mais básicos de proficiência em qualquer um dos domínios.

O inquérito mede a proficiência dos adultos em competências-chave de processamento de informação - literacia, numeracia e resolução de problemas - que representam as competências fundamentais para o desenvolvimento pessoal, económico e social. Também recolhe informações e dados sobre a forma como os adultos utilizam as suas competências em casa e no trabalho.

Ao longo da última década, a proficiência média em literacia melhorou apenas na Dinamarca e na Finlândia, mantendo-se estável ou diminuindo em todos os outros países e economias participantes. Os resultados em numeracia são mais positivos, com oito países a melhorarem os seus resultados, liderados pela Finlândia e por Singapura.

A maioria dos países e economias que registaram um declínio das competências viu a proficiência em literacia e numeracia diminuir em diferentes grupos etários. A expansão generalizada do ensino não compensou estas tendências, uma vez que a proficiência dos diplomados do ensino superior diminuiu ou estagnou na maioria dos países.


País

 

Literacia

Numeracia

Resolução adaptativa de problemas

Finlândia – 1º

296

294

276

Japão – 2º

289

291

276

Suécia – 3º

284

285

273

Noruega – 4º

281

285

271

Países Baixos – 5º

279

284

265

Estónia – 6º

276

281

263

Singapura – 19º

254

274

252

Portugal – 30º

235

238

233

Chile – 31º

218

214

218


Fonte: FNE / Inquérito às Competências dos Adultos 2023-Portugal

Estas conclusões sublinham a necessidade urgente de os decisores políticos se centrarem na aprendizagem ao longo da vida e em toda a vida, assegurando que os sistemas de educação e formação sejam mais adaptáveis à evolução das exigências.

Os declínios na proficiência em literacia e numeracia foram particularmente evidentes entre os segmentos menos instruídos da população. Esta situação conduziu a um fosso cada vez maior em termos de competências entre os adultos com um nível de instrução elevado e os adultos com um nível de instrução baixo na maioria dos países e economias participantes.

A educação formal desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de competências. Os adultos com ensino superior têm, em média, resultados mais elevados do que aqueles que abandonaram o ensino mais cedo. No entanto, níveis de educação mais elevados nem sempre equivalem a melhores competências e conhecimentos.

Cerca de um terço dos trabalhadores dos países da OCDE não estão adaptados aos seus empregos, quer em termos de qualificações, competências ou áreas de estudo. Esta situação tem custos económicos e sociais significativos, sobretudo se forem trabalhadores sobrequalificados.

Figura 2.5. Percentagem de adultos com fraco desempenho em mais de um domínio

 


Fonte: Do Adults Have the Skills They Need to Thrive in a Changing World - OECD 2024

Por exemplo, os adultos que trabalham em empregos que não exigem o seu nível de educação recebem salários 12% mais baixos do que os seus pares com empregos bem adaptados. Além disso, têm menos quatro pontos percentuais de probabilidade de declarar uma elevada satisfação com a vida. Isto sugere que as pessoas que desempenham funções que não utilizam as suas qualificações podem muitas vezes acreditar que o seu potencial está a ser desperdiçado.

A educação pode reduzir as desigualdades na sociedade, mas também pode perpetuá-las, uma vez que as disparidades nos níveis de escolaridade tendem a persistir ao longo das gerações. Em Israel, na Suíça e na Hungria, estes efeitos são especialmente pronunciados e representam uma diferença de pelo menos 34 pontos na literacia, tendo em conta as caraterísticas sociodemográficas dos inquiridos.

O défice de competências dos adultos de diferentes contextos socioeconómicos é menor em Espanha, onde a educação dos pais representa apenas uma diferença de sete pontos entre os adultos com pais com baixo e alto nível de educação.

14% de sobrequalificados

Em Portugal, os adultos com idades entre os 16 e os 65 anos obtiveram, em média, 235 pontos na literacia (25 pontos abaixo da média da OCDE), 238 pontos na numeracia (22 pontos abaixo da média da OCDE) e 233 pontos na resolução adaptativa de problemas (17 pontos abaixo da média da OCDE).

Na literacia, 42% dos adultos obtiveram pontuação no Nível 1 ou abaixo (média da OCDE: 26%), o que denota uma baixa proficiência neste domínio. Em numeracia, 40% dos adultos obtiveram resultados iguais ou inferiores ao Nível 1 de proficiência (média da OCDE: 25%). Na resolução de problemas, 42% dos adultos obtiveram resultados iguais ou inferiores ao Nível 1 de proficiência (média da OCDE: 29%).

Os adultos mais velhos (55-65 anos) em Portugal demonstraram menor proficiência do que os jovens de 25-34 anos nos três domínios. No domínio da literacia, os adultos entre os 55 e os 65 anos obtiveram uma pontuação 32 pontos inferior à dos adultos jovens com idades entre os 25 e os 34 anos (média da OCDE: pontuação 30 pontos inferior). As disparidades de competências entre adultos mais velhos e mais jovens podem traduzir efeitos associados ao envelhecimento, mas também diferenças na qualidade e quantidade de educação e formação entre gerações.

Os jovens adultos portugueses com idades entre os 16 e os 24 anos também pontuaram abaixo das médias da OCDE nos três domínios avaliados, o que é significativo.

As competências têm um grande impacto na vida das pessoas. Em geral, competências mais elevadas trazem benefícios económicos e sociais significativos. Os adultos com competências mais elevadas tendem a ter qualificações académicas mais elevadas. No entanto, os benefícios da posse de competências mais elevadas vão para além das oportunidades associadas às qualificações académicas formais, tais como o bem-estar individual ou uma maior participação cívica.

Figura 4.10. Relação entre numeracia e bem-estar individual – B Saúde


Fonte: Do Adults Have the Skills They Need to Thrive in a Changing World - OECD 2024

Em Portugal, cerca de 14% dos trabalhadores declaram ser sobrequalificados (média da OCDE: 23%) e outros 14% declaram ser subqualificados (média da OCDE: 9%). Cerca de 7% dos trabalhadores declaram que algumas das suas competências estão aquém do que é exigido pelos seus trabalhos (média da OCDE: 10%). 

Estes trabalhadores afirmam frequentemente que tal se deve ao facto de necessitarem de melhorar as suas competências informáticas ou de software (35%), seguidas das suas competências organizacionais ou de gestão de projetos (32%). Por último, 41% dos trabalhadores declaram encontrar-se desajustados no que respeita à área de estudo, porque a qualificação académica mais elevada que detêm não foi obtida na área mais relevante para o seu emprego.

O 1.º ciclo do Inquérito às Competências dos Adultos foi realizado em três rondas distintas, entre 2011 e 2018, em 39 países. Durante o 1.º Ciclo, foram entrevistados cerca de 245 000 adultos, representando 1,15 mil milhões de pessoas. Portugal só participou no segundo ciclo de 2023.