31-1-2025
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O Observatório da Convivência Escolar promoveu, na tarde de 31 de janeiro de 2025, o Seminário "Na escola aprender a conviver". O evento decorreu no Auditório do Sindicato dos Professores da Zona Norte (SPZN), no Porto, e marcou a conclusão da "Semana da Convivência Escolar", que aconteceu entre 27 e 31 de janeiro.
Este seminário visou a procura de respostas para alcançar ambientes de trabalho positivos e seguros de ensino e aprendizagem, de cidadania e de democracia nas escolas portuguesas e contou com vários oradores convidados, destacando-se as presenças de uma delegação da DGEstE (Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares /Ministério da Educação), composta pelo Diretor-Geral João Miguel Gonçalves e Miguel Maio (Diretor dos Serviços da Segurança Escolar) e do Professor Doutor José Matias Alves, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), assim como de representantes de organizações que constituem o Observatório da Convivência Escolar.
Mas coube a João Dias da Silva, Presidente da AFIET, dar as primeiras palavras desta iniciativa, que decorreu em formato híbrido (presencial e ZOOM), saudando os participantes presentes e os oradores convidados e apresentando os principais objetivos do Observatório da Convivência Escolar. Eles passam por desempenhar um papel crucial na promoção de ambientes escolares saudáveis e seguros através da monitorização e análise de situações, da pesquisa e estudos, assim como a disponibilização de uma plataforma e relatos para apoio a estruturas escolares e outros apoios como advocacia e sensibilização.
O Presidente da AFIET deixou ainda uma palavra relativa à "mensagem positiva retirada da Conferência da FNE/AFIET em Braga, realizada no dia anterior, em que foram apresentadas várias iniciativas de escolas locais para a boa convivência escolar. E o que o Observatório pretende é dar força a estas iniciativas, sempre num contexto positivo".
As crianças aprendem o que ouvem e o que veem
Seguiu-se depois o primeiro painel da tarde relativo aos temas "As diversas vertentes da segurança escolar" e a campanha "Não se aceita, ponto!" e que ficou a cargo de uma delegação da DGEstE com o seu Diretor-Geral João Miguel Gonçalves a ter a primeira palavra na apresentação. "As crianças aprendem o que ouvem e veem", começou por referir numa frase que marcou bastante esta conferência, acrescentando que, a seu ver, "sinto que não passa de forma correta para a população a tranquilidade que se vive nas escolas".
Para o Diretor-Geral da DGEstE “é fundamental garantir a inclusão nas escolas através de políticas educativas e construindo mais coisas em conjunto. Tem de haver mais pensamento de acordo com a conjuntura. É necessário apostarmos em mais dados e menos ruído. Há muito ruído que muitas vezes acaba por confundir tudo em vários setores educativos".
Para João Gonçalves, "é preciso olhar contra o pessimismo. Porque eu olho para trás no tempo e considero que estamos muito melhor que há 50 anos. E isso nota-se principalmente ao nível da descida nos números do abandono escolar". Quanto ao futuro, a tecnologia foi o foco "porque é a tecnologia que nos vai levar à mudança que andamos a resistir. Mas como já referi é preciso o envolvimento de todos os atores educativos: Professores, Pessoal de Apoio Educativo (PAE), alunos e pais".
Depois Miguel Maio (Diretor dos Serviços da Segurança Escolar) fez uma apresentação da campanha desenvolvida pela DGEstE "Não se aceita, ponto!", divulgada online e nas televisões. Depois da nota de que esta campanha somou mais de três milhões de visualizações na plataforma youtube, ficou uma referência a Sartre que dizia que "qualquer violência é sempre uma derrota", para justificar também a criação desta campanha que contou com várias parcerias ao nível de empresas públicas e privadas, também de embaixadores famosos para potenciarem o conteúdo. As ações futuras desta campanha passam por formações, webinários e ações com sustentabilidade.
Os professores têm de ser autores da sua profissão
Depois no segundo painel, "Aprender a conviver no tempo e no espaço escolares", com o Professor Doutor José Matias Alves, moderação de Joaquim Santos (FNE) e contributos de Maria João Cardoso (FNE), Mariana Carvalho (CONFAP – Confederação Nacional de Associações de Pais) e Álvaro Santos (ANDAEP - Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas), debateu-se principalmente em volta daquilo que o académico da UCP chamou de os cinco C'S: Comunicar, Comunicar, Comunicar, Comunicar e Comunicar.
Não, caro leitor(a) não nos enganámos. É propositado este reforço da ideia que José Matias Alves quis assinalar no debate, de forma a perceber-se a importância que a comunicação tem dentro e fora da sala de aula, para todos os intervenientes educativos.
Este painel contou ainda com perspetivas e questões colocadas por Maria João Cardoso relativas à forma como a inclusão e o relacionamento interpessoal toca nos problemas da convivência escolar, com Matias Alves a defender que "os professores têm de ser os autores da sua profissão. Têm de ter voz e fazer a diferença".
Mariana Carvalho expôs então a visão dos pais e aquilo que considerou como "reaprender a conviver após a pandemia, derrubando muros e proporcionando uma maior intervenção dos pais dentro da escola. E é necessário haver mais amor, menos punições e menos castigos. Assim como dar mais voz aos docentes, ao PAE e aos alunos também".
Já Álvaro Santos deixou que "é necessário criar uma cultura escolar para uma convivência positiva, com base na participação dos alunos", repetindo a ideia de que "as crianças aprendem o que vão vendo", lembrando ainda que "se deve proteger a escola para um convívio comum, porque é dentro das escolas que criamos as bases para uma qualidade na aprendizagem. E isso passa pelas lideranças nas escolas".
José Matias Alves em resposta deixou a ideia de que é preciso "uma escola mais humana, mais focada nas pessoas. As escolas são pessoas em interação e as lideranças estão focadas nas aprendizagens de todos o que são a escola: os alunos, PAE, professores, todos os que formam a comunidade educativa. Os líderes têm de agir numa lógica de comunicação, de reconhecimento e de fazer as pontes entre as partes que constituem algo que está sempre em construção".
Em sua opinião vivemos o paradoxo entre competição e relação, que constitui um grande desafio para a escola. Este paradoxo envolve professores e também os alunos: “Uma décima define o futuro de um aluno. Estamos a correr depressa de mais”. O professor e investigador evocou o relatório Jacques Delors de 1996 e o da UNESCO de 2021 para assinalar uma responsabilidade de Todos na Educação: “A comunidade educativa é uma construção permanente. Precisamos de vários tempos na educação. Um deles é o tempo de sermos humanos, de educar pessoas”.
José Matias Alves evocou os cinco Cês dos Jesuítas da Catalunha e a urgência, de que falava Rubem Alves, de descobrirmos como ensinar a compaixão. Também Lobo Antunes confrontava a empatia com a compaixão. Este orador reforçou que é muito importante “ensinar as pessoas a serem compassivas e criativas”. E também perguntar ‘o que sentes, em vez do que sabes’”. José Matias Alves sublinhou que vivemos um “isolamento existencial” e recordou a conhecida obra “A Escola ou a Guerra Civil”, do pedagogo Philippe Meirieu.
Em seguida, relembrou três práticas da educação de Roland Barthes: o ensino, a aprendizagem (o mestre) e a metáfora da maternagem, que vê a relação educativa como uma relação de afeto, incitamento e sedução. No entanto, José Matias Alves lembra que a educação é também uma prática de paternagem, uma vez que sem autoridade o projeto de fazer crescer o outro perde, em grande medida, o sentido.
Aumentar o rácio de PAE
O último painel teve a participação de três organizações envolvidas no Observatório da Convivência Escolar - CONFAP, ANDAEP e APF (Associação para o Planeamento da Família) - que fizeram uma apresentação de cada uma das entidades, assim como das iniciativas realizadas por cada uma ao longo desta Semana da Convivência Escolar.
De destacar as palavras de Filinto Lima, Presidente da ANDAEP, que defendeu algo comum a todos os oradores deste painel relativo ao objetivo do Observatório, “acima de tudo, divulgar boas práticas, permitindo perceber que as escolas públicas são seguras, mas que poderiam ser ainda mais, com a atualização da portaria de rácios relativa ao PAE, de forma a poder existir uma melhor adequação do número de alunos às diversas necessidades de inclusão, assim como ao maior números de alunos estrangeiros nas nossas escolas".
Esta iniciativa teve o seu encerramento a cargo de António Jorge Pinto (Vice-Secretário-Geral da FNE), que deixou palavras de ânimo para o futuro do Observatório da Convivência Escolar, tendo em conta o que as suas organizações (APF, IAC, ANDAEP, CONFAP, FNE e AFIET) produziram de 27 a 31 de janeiro, assinalando ainda que "o problema da convivência escolar envolve todos, estando todos convocados na sociedade para o resolver".
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