O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) alertou num encontro esta 3ª feira (18 julho) que os contextos sociais e culturais existentes nas escolas nunca foram tão exigentes, assim como os currículos, defendendo uma profunda reestruturação na formação inicial e contínua dos professores.“Os contextos sociais e culturais em que hoje se trabalha nas escolas nunca foram tão exigentes. Todos os profissionais têm de lidar com alunos provenientes de uma grande diversidade de países, que falam outras línguas, que têm outros hábitos sociais e culturais e que têm necessidades e interesses diferentes”, afirmou Domingos Fernandes, na sessão de abertura do seminário ‘A profissão docente: desafios atuais e futuros’, que decorre na Universidade do Minho, em Braga.
O orador lembrou que às escolas pede-se que todos estes alunos aprendam, sejam plenamente integrados e devidamente acompanhados.
“Estes factos questionam indelevelmente a forma predominante de ensinar, que consiste em dizer ou debitar o currículo e verificar através de um ou dois testes se os alunos são capazes de reproduzir o que lhes foi dito ou ‘dado’”, declarou Domingos Fernandes.
O presidente do CNE defendeu que é importante que a formação inicial e contínua de educadores e professores “seja profundamente reestruturada, tendo em devida conta as realidades e as reais necessidades do atual sistema educativo”.
“A natureza, a organização, os conteúdos, as dinâmicas de formação e a qualidade e utilidade real dos cursos de formação de professores têm sido questionados por uma diversidade de intervenientes que referem a sua incapacidade para acompanhar as múltiplas e rápidas mudanças que têm ocorrido no sistema educativo”, sublinhou Domingos Fernandes.
No seu entender, a formação de professores tem de ser assumida por todos os intervenientes como uma questão central e determinante para o desenvolvimento do país e da democracia e, assim, tem de mobilizar os recursos necessários.
Quanto ao currículo atual, o presidente do CNE considera-o “sem precedentes ao nível da sua exigência acerca do que é preciso aprender e ensinar”, o que requer “uma reconfiguração dos espaços e um reposicionamento dos atores mais relevantes, tais como os alunos, os professores e os gestores escolares”.
“Exige, muito particularmente, que estes mesmos atores sejam capazes de o reinventar, assumindo-o como um projeto de relação concreta com o conhecimento através da experimentação, da discussão intelectual, da interação social e do pensamento crítico e criativo. E exige pedagogias que façam a diferença no combate consistente, consequente e muito determinado às desigualdades e na luta pela justiça social e pela efetiva democratização dos sistemas educativos”, sustentou Domingos Fernandes.
Outra das oradoras foi a coordenadora da Comissão Especializada Professores e Outros Profissionais da Educação do CNE.
“A profissão docente encontra-se numa situação crítica – eu diria numa encruzilhada – que requer respostas concertadas e urgentes, o que claramente tem de passar pelo desenvolvimento de medidas políticas que concorram para aumentar a sua atratividade e pelo investimento numa formação de qualidade assente na investigação e no conhecimento produzido internacionalmente e em particular no nosso país”, defendeu Assunção Flores.
A docente considera que o setor da educação vive tempos conturbados e exigentes, não só no panorama nacional, mas também internacional, situação que se deve, no seu entender, não apenas a fatores conjunturais, que têm acentuado este cenário, mas também a elementos estruturais aos quais, destacou, “é fundamental atender”.
“À semelhança de outros países, Portugal enfrenta uma grave crise no setor da educação, especialmente no que se refere à falta de professores, um fenómeno que não é novo, mas é persistente”, advertiu Assunção Flores.
Braga, 18 jul 2023 (Lusa) – JGS // FPA