“Gente com gente dentro do coração”, assim são os professores

29-3-2016

“Gente com gente dentro do coração”, assim são os professores
Campanha #obrigadoprofessor da Federação Nacional da Educação continua a recolher depoimentos para lembrar que há bons professores e boas práticas nas escolas. Todos podem participar. Todos podem agradecer.
 
"Obrigado aos professores que acreditam que a arte faz parte da educação". A frase de Nuno Carinhas, diretor artístico do Teatro Nacional São João, no Porto, condensa o seu agradecimento num vídeo de 13 segundos. O seu depoimento integra a campanha #obrigadoprofessor lançada pela Federação Nacional da Educação (FNE) a 5 de outubro, Dia Mundial do Professor. A iniciativa conta já com dezenas de testemunhos e continua a recolher agradecimentos sentidos de quem não se esquece dos professores que ensinam a olhar para a vida de uma maneira diferente.
 

Gente anónima e conhecida associa-se à campanha da FNE que está no seu site, num blogue, no youtube e tem página de Facebook. O objetivo é lembrar e valorizar aqueles que marcam para sempre. Margarida Pinto Correia, diretora de Inovação Social da Fundação EDP, recorda a sua professora primária Maria de Lurdes Varela. "A mulher que nos ralhava, que ria connosco, e que nos ensinou a primeira frase que soube escrever ‘eu acordo sempre cedo num dia de verão', nunca mais me esqueci, que nos leu o João Semana". A professora que, acrescenta, "me mudou a vida e que me marcou para sempre".

António Capelo, ator, trata a sua professora primária por "a minha querida professora". Quando regressa a Castelo de Paiva, à aldeia onde nasceu, a sua professora lembra-se dele e ele não se esquece dela. Parte de si tem uma parte dela. "Os professores são marcos na formação de qualquer ser humano", diz num vídeo que gravou para a campanha da FNE. O professor é, sublinha, quem "nos ampara nas dúvidas e que nos esclarece essas dúvidas". Quem faz olhar para o mundo de forma atenta, que mostra que "é possível olhar para a vida de uma maneira diferente", que ensina o que é essencial, "que a vida se faz caminhando". E hoje, nos tempos que correm, nesses tempos avassaladores, em que tudo está perto e distante ao mesmo tempo, ser professor é, para Capelo, "uma responsabilidade muito grande".

A atriz Emília Silvestre recorda-se de alguns professores e a sua memória foca-se em Vera Vouga, que já partiu. "Tinha um cuidado de trabalhar com os alunos de uma forma interessada e humanista", lembra. "São os bons professores que nos marcam para a vida toda". Há, portanto, alterações a fazer. Na sua opinião, o ensino de hoje anda "muito focado em questões financeiras". "Os professores passam a vida a preencher papéis e não têm tempo para fazer o que devem fazer: interessar os alunos e fazer deles pessoas melhores", refere. Defende, por isso, que se troque o cunho economicista por o cunho humanista.

Os alunos do Centro Escolar de Mindelo, Vila do Conde, juntam-se para o vídeo de agradecimento e dizem o que lhes vai na alma. Agradecem aos seus professores o empenho, a disponibilidade. E também a paciência, ajudarem os alunos a crescer, ensinar a ler e a escrever, dar atenção, ajudar a ter um futuro melhor, ensinar coisas novas. Pelo apoio, pela orientação, pela brincadeira. O pequeno António Fonseca Nadio agradece à sua professora Ângela os quatro anos do 1.º ciclo. O que ensinou, tudo o que fez pelos alunos. "É a melhor professora do mundo, adoro-te".

Código de conduta vitalício 
Quando Miguel Cadilhe, economista e ex-ministro das Finanças, fecha os olhos e lembra as pessoas que mais se destacam na sua vida, surge-lhe a sua professora primária, a senhora dona Cremilde que dava aulas na escola da Póvoa de Varzim. "Tive a felicidade de encontrar uma excelente, uma grande professora, que me ensinou as bases do Português, da Matemática, da História, da Geografia, dos valores e dos princípios". Que transmitia aos alunos um código de conduta, "código vitalício", para toda a vida. A admiração é imensa. "Um exemplo de conteúdo, de exigência, estava ali para nos indicar o caminho", descreve.
 
Amélia Coquard agradece com o nome da professora Manuela escrito num quadro preto. Um grande obrigado "pela vontade que me deu para aprender tudo ao longo da minha vida". Tomás, aluno do 10.º ano, lê um poema, aquele poema que apresenta o professor como artista, malabarista, psicólogo, mãe, pai, irmã, avó, informação e ação, bússola e farol. Um imenso sol. "Um professor é quem tem nas mãos o mundo de amanhã". A jovem Ana Lúcia, aluna do 12.º ano, em língua gestual, agradece aos professores de Educação Especial por a terem ajudado "desde sempre". E estende o seu obrigado a outros professores. 
 
Frei Fernando Ventura agradece àqueles que o convenceram que era importante aprender. Aos professores, essas pessoas que dão colo, que são "capazes de ser coração na história". A todos os que fora do tempo de trabalho, das aulas, oferecem a sua generosidade. "A escola tem de ser um laboratório de vida. Nas mãos dos professores está o futuro inteiro de um país, gente com gente dentro do coração", refere. Carlos Silva, secretário-geral da UGT, usa o plural para agradecer a todos os professores. A todos pela "excelente contribuição para a educação, integração na sociedade". Por tudo o que fazem nas escolas.
 

Rui Massena, maestro e músico, recorda a Irmã Conceição Neves do Colégio Nossa Senhora da Bonança. Os professores são determinantes, estimulam os alunos a crescer. Marcam para a vida. Massena gostaria que a imagem pública do professor seja recuperada "na dignidade que a função merece e tem para a sociedade". É preciso, realça, "força para continuar a estimular crianças e a si próprios, dar de si aos outros". Fica o seu abraço de força e de grande consideração, ou não fossem os professores fundamentais para "uma sociedade melhor, mais justa e afetivamente mais bem resolvida".

A campanha é assim: sentida e intensa, com mensagens de apoio e reconhecimento. A FNE lançou a iniciativa para promover a "imagem social dos professores, de modo que os bons profissionais se sintam mobilizados na profissão e não abandonem precocemente e para que os melhores alunos queiram ser professores". João Dias da Silva, secretário-geral da FNE, adianta ao EDUCARE.PT que a campanha é um processo dinâmico, que todos podem participar, e que o número de intervenções não para de aumentar. "Tem sido gratificante ver a adesão das pessoas". "A ideia é demonstrar que há muitas boas práticas e muitos bons professores que raramente são reconhecidos", diz, acrescentando que "a boa imagem dos professores tem pouca visibilidade no nosso país".

fonte: educare