Depois de dois dias de greves, divididos a norte (2 de março com incidência nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra) e sul (3 de março em distritos de Leiria, Castelo Branco, Portalegre, Santarém, Lisboa, Setúbal, Beja, Évora e Faro) cerca de 80 mil professores, divididos pelas duas maiores cidades portuguesas, voltaram a sair à rua pedindo respeito e valorização da sua profissão.
O protesto foi desta vez partilhado por Lisboa e Porto com ambas as manifestações a acontecerem à mesma hora e com denominador comum: o facto do Ministério da Educação não ter aceite calendarizar negociações sobre a recuperação do tempo de serviço, a eliminação das vagas e das quotas, a aprovação de um regime específico de aposentação, a regularização dos horários de trabalho ou a revisão urgente do regime de mobilidade por doença, além do desacordo relativo à vinculação de professores entre outros assuntos. A esta situação, já de si negativa, associou-se a tentativa de parar a luta dos professores com a imposição de serviços mínimos ilegais.
Foram milhares os professores que em Lisboa saíram do Rossio em desfile para a Assembleia da República e no Porto desde a Praça do Marquês até encherem a Avenida dos Aliados, mostrando a uma só voz a luta pela valorização e respeito pela sua profissão, que merecem respeito e reconhecimento pelo seu trabalho e que não desistem de reafirmar a esperança e a confiança de conseguir com que as nossas escolas sejam espaços de desenvolvimento profissional atrativos e aliciantes.
Manuel Teodósio: "O Ministro estraga tudo em que mexe"
Em Lisboa, Manuel Teodósio, Presidente do SPZC e Secretário-Nacional da FNE liderou a presença da Federação e no discurso final em frente ao Parlamento começou por comparar o atual Ministro da Educação "a Midas, da mitologia grega, mas ao contrário porque se Midas transformava tudo em que tocava em ouro, já o ministro estraga tudo onde mexe. Como no caso da Mobilidade por Doença em que mexeu e apesar de não ter esse nome, passou a ser um concurso. Portanto, estava melhor antes do que está agora. Agora temos uma negociação de vinculação de professores em que se vai perder uma oportunidade para combater a perda de professores".
Manuel Teodósio deixou ainda criticas sobre "a situação dos professores contratados, que tinham aqui uma expetativa legítima de ver os seus problemas resolvidos e o que lhes vai acontecer? vão ser metidos numa prisão. A isso dizemos não e não". Sobre as restantes matérias reivindicadas pela FNE "aquilo que temos ouvido de respostas do Ministério da Educação é zero a quase tudo. Nada avança. Desde a recuperação do tempo de serviço à mobilidade por doença ou das passagens aos 5º e 7º escalões. Zero vezes zero. Não pode ser. São precisas respostas para isto e para a questão dos professores da monodocência, por exemplo" ficando, a fechar, uma garantia: "não vamos parar, queremos a justiça merecida para a educação e para os professores".
João Dias da Silva deixou recado para o Ministério da Educação
Já no Porto as palavras finais aos professores contaram com a presença do Secretário-Geral da FNE, João Dias da Silva, que começou por lembrar que "as enormes greves que em todas as escolas por todo o país se realizaram, foram um sinal claro de que nem com serviços mínimos ilegais o Governo verga a nossa vontade. O Governo quer terminar a negociação do regime de concursus sem garantir que, para merecerem a nossa confiança, os concursos têm de ser justos e transparentes" acrescentando que "a última versão que o Governo apresentou continua a provocar distorções na lista graduada, desrespeitando assim a jutiça rekativa entre todos os candidatos e continua a impor um orgão inútil que só vem tazer falta de transparência para todo o processo. Assim, não, assim não há acordo", defendeu o líder da FNE. A recuperação do tempo de serviço não ficou fora do discurso de Dias da Silva, lançando questões ao governo: "Mas agora o Governo diz que está a fazer contas. Há sete anos que anda a fazer contas. Isto é um chumbo em termos de capacidade de resposta para os problemas que existem. É só agora que está a fazer contas para garantir a recuperação do tempo de serviço congelado? É só agora que está a fazer contas para que os professores tenham um regime de aposentação que respeite o desgaste que a profissão provoca? É só agora que está a fazer contas para substituir o modelo de avaliação cego e injusto que continua a impor para descaracterizar uma carreira que devia ser atrativa?", disse.
O discurso que fechou o protesto no Porto passou ainda pela burocracia, o número de alunos por turma, o envelhecimento dos professores, número de docentes nas escolas e formação garantida para estes profissionais, como João Didas da Silva a terminar com um recado direto para a Avenida Infante Santo em Lisboa (Sede do ME): "É por isso que se torna essencial valorizar os professores e dar-lhes condições para que sejam bons professores, com uma carreira dignificada e atrativa que faça com que eles gostem da profissão e continuem a trabalhar e para que os mais novos queiram ser professores. Para termos melhor educação, temos de respeitar os que cá estão".
Segue-se negociação suplementar e novas iniciativas de luta
Este protesto veio mostrar mais uma vez que os profissionais da Educação, que todos os dias demonstram nas escolas de Portugal com o seu trabalho que merecem ser respeitados e prestigiados, não perdoam desconsiderações. Os educadores e professores portugueses cumprem com empenho e dedicação o que são os seus deveres. Aquilo que mais este protesto reforçou foi o pedido que quem de direito não deixe de cumprir as suas responsabilidades e que os docentes portugueses estão disponíveis para as lutas que forem necessárias, para garantir que lhes seja reconhecido o que é seu de direito e de justiça. E, quanto a isto, ficou dado mais um sinal de que não vão desistir.
Querem melhorar a Educação? Tratem bem os que cá estão!
Relembrar que no próximo dia 9 de março, às 10h30, vai realizar-se a reunião de negociação suplmentar sobre o diploma de concursos entre Sindicatos e Ministério da Educação, que vai contar com uma Concentração com Plenário Nacional junto às instalações do Ministério da Educação.
A 7 de março, à tarde, numa Conferência de Imprensa a realizar em Lisboa, vão ser divulgadas as formas de luta seguintes, decididas a partir da consulta que está a ser realizada junto dos professores e educadores em todo o país, no âmbito dos Dias 4D - Debate Democrático pela Dignificação da Profissão.