A Federação Nacional da Educação (FNE) assinalou hoje o início do ano letivo, que espera venha a decorrer de forma tão normal quanto possível, mas lamentou que o novo ano comece com “os velhos problemas” do setor.
“Nós começamos um ano sem que aquilo que são os velhos problemas da educação estejam resolvidos. É um novo ano letivo com velhos problemas por resolver”, disse em declarações à agência Lusa o secretário-geral, João Dias da Silva.
Hoje é o último dia do arranque do ano letivo e os cerca de 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano estão, oficialmente, de regresso às aulas.
A FNE escolheu a Escola Básica e Secundária Josefa de Óbidos, em Lisboa, para assinalar o início do ano letivo e, à entrada, o secretário-geral da estrutura sindical revelou as suas expectativas.
“Aquilo que queremos é que, tanto quanto possível, haja o máximo de tempo de atividade letiva presencial sem interrupções para todos”, afirmou João Dias da Silva, que elogiou o trabalho das escolas, mas lamentou que o Governo não tenha feito o suficiente para assegurar as melhores condições, referindo-se particularmente ao número de alunos por turma.
Entre aquilo que considerou serem as exigências associadas à pandemia da covid-19 e a necessidade de trabalhar para recuperar as aprendizagens afetadas nos últimos dois anos, o dirigente sindical destacou, no entanto, a persistência de problemas que há muito tempo diz afetarem a educação.
“Se formos ver ouvir as intervenções que eu fiz em situação idêntica nos anos letivos anteriores, vemos que há problemas que se mantêm e que o Ministério da Educação os conhece e não resolve”, sublinhou.
Em concreto, João Dias da Silva referiu questões como a situação dos professores deslocados, a falta de profissionais em determinadas zonas do país e o envelhecimento do corpo docente.
“Não posso generalizar, não posso dizer que é em todo o país, mas aqui (zona de Lisboa), por insuficiência de ação do governo, nós vamos voltar a começar este ano com falta de professores para muitos alunos”, alertou.
A situação, segundo o secretário-geral da FNE, repete-se no sul do país e, em particular, no Algarve e resolver-se-ia com políticas de incentivo e de apoio à deslocação dos professores, que se concentram maioritariamente no Norte.
Por outro lado, a estrutura sindical refere ainda outros problemas como a ultrapassagem dos limites do tempo de trabalho, o modelo de avaliação de desempenho e, em geral, a precariedade que afeta a classe docente.
“Os professores têm muita dificuldade em conciliar a sua vida profissional com a vida pessoal e familiar, porque a vida profissional absorve uma parte significativa daquilo que deveria ser o tempo para a vida pessoal e familiar”, disse, acrescentando que, quanto ao modelo de avaliação, não reconhece verdadeiramente o empenho dos docentes e está limitado por constrangimentos administrativos.
No arranque do ano letivo, deixou também uma mensagem de apoio aos profissionais das escolas: “Temos consciência dos enormes e especiais desafios deste ano letivo, estamos conscientes que o Ministério da Educação, não os valoriza, não os reconhece, não os considera e, por isso, (os professores) têm todas as razões para estarem insatisfeitos”.
Quem também se tem dirigido às escolas e aos seus profissionais com palavras de reconhecimento e agradecimento é o próprio ministro da Educação, que na quarta-feira destacou o trabalho das escolas, agradecendo aquilo que considerou ser um esforço de todas as comunidades possíveis para garantir um novo ano letivo tão normal quanto possível.
No entanto, João Dias da Silva avisa que palavras não chegam e que “é preciso que essas palavras de reconhecimento se transformem em políticas de reconhecimento, de valorização e de apoio”.
Hoje, a FNE lançou também uma consulta nacional 'online' a professores e trabalhadores não docentes, "para avaliar, de forma detalhada, as condições de abertura do novo ano letivo" e “perceber se estão a ser cumpridos os procedimentos de segurança adequados aos tempos de pandemia de covid-19 e que problemas afetam as condições de trabalho e o bem-estar de todos os participantes na vida escolar".
MYCA // JMR
Lusa/Fim