PISA 2022: Portugal 'pisado' em matemática e em leitura

20-12-2023

PISA 2022: Portugal 'pisado' em matemática e em leitura

De um modo geral, os resultados do PISA 2022 desceram devido ao impacto da Covid-19, de medidas de austeridade e da falta de recuperação de aprendizagens. Portugal deu um grande tombo em literacia matemática (- 21 pontos) e de leitura (-15 pontos) e tropeçou ainda na literacia científica (– 7 pontos). Singapura, Japão e Coreia lideraram o top com Baku (Ajerbeijão), Autoridade Palestiniana e Kosovo no fundo da tabela. Para combater disparidades a longo prazo nos resultados dos alunos em termos de género e de desigualdades, as estratégias de recuperação continuam a ser essenciais.

Quatro anos após o PISA 2018, a OCDE divulgou, em 5 de dezembro de 2023 os resultados do Programa de Avaliação Internacional dos Alunos – PISA 2022, que mede a capacidade de os jovens de 15 anos utilizarem os seus conhecimentos e competências em leitura, matemática e ciências para enfrentarem desafios da vida real. Responderam cerca de 690 mil alunos, de 81 países/economias do mundo, representando cerca de um total de 29 milhões de estudantes.

Em Portugal, 6. 793 alunos, em 224 escolas, completaram o teste a matemática, leitura ou ciências, representando cerca de 96 600 alunos de 15 anos (uma estimativa de 93% da população total de jovens de 15 anos).

Devido à pandemia, o habitual ciclo trianual do PISA prolongou-se por mais um ano, desta feita com a literacia da matemática como domínio principal. O relatório divide-se em dois volumes. O Volume 1, intitulado “O Estado da Aprendizagem e da Igualdade na Educação”, centra-se nas principais conclusões do PISA, incluindo os quadros principais que comparam o desempenho dos países nos três domínios com os resultados de 2018.

O Volume 2, de título “Aprendendo Durante – e da – Disrupção”, apresenta os dados completos que fundamentam as recomendações políticas da OCDE. Dele fazem parte sete capítulos, desde o capítulo um “Sistemas Educativos Resilientes” até ao capítulo sete, que analisa o caminho entre a data e os conhecimentos.

No PISA 2022, Portugal obteve um desempenho de 472 pontos em matemática (-20.6 que em 2018), 477 em leitura (-15.2 que em 2018) e 484 em ciências (-7.3 que em 21018), sendo a média da OCDE respetivamente 472, 477 e 485. A média da OCDE em 2108 foi de 487 em leitura, 489 em matemática e 489 em ciências. O contexto socioeconómico continua a ter uma influência muito significativa no desempenho dos alunos portugueses nos três domínios.

Se atentarmos num período de 10 anos (entre 2012 a 2022) Portugal desceu -14.6 em literacia matemática, -12.8 em leitura e -7.3 em ciências.

Os resultados médios de 2022 foram inferiores aos de 2018 a matemática e leitura, e mantiveram-se praticamente os mesmos que em 2018 a ciências. Tendo em conta a descida da maior parte dos países, os alunos em Portugal obtiveram resultados na média da OCDE a matemática, leitura e ciências.

Em Portugal, uma proporção menor de alunos do que na média dos países da OCDE obteve um desempenho de topo (nível 5 ou 6) em pelo menos um domínio. Ao mesmo tempo, uma proporção semelhante de alunos do que na média dos países da OCDE alcançou um nível mínimo de proficiência (nível 2 ou superior) nos três domínios.

Em 2018, Portugal não cumpriu o padrão de taxa de resposta dos alunos: as taxas de resposta caíram entre 2015 e 2018, mas depois regressaram a níveis mais elevados em 2022. A análise de não enviesamento de resposta apresentada para 2018 implica um pequeno enviesamento para cima dos resultados de desempenho do PISA 2018 em Portugal. No entanto, os resultados do PISA 2022 foram inferiores aos dos ciclos anteriores nos três domínios.

Telemóveis distraem 34% dos alunos

O desempenho em matemática diminuiu nos países com um desempenho acima da média da OCDE, com exceção de Singapura, Taipé, Japão e Coreia. O desempenho em todos os países da média da OCDE está igualmente a diminuir. O desempenho nos países abaixo da média da OCDE também diminuiu, com exceção de Turquia, Brunei, Cazaquistão, Qatar, Panamá, Filipinas, Guatemala, República Dominicana, Paraguai e Camboja.

No período mais recente (2018 a 2022), o fosso entre os alunos com melhores pontuações (10% com as pontuações mais elevadas) e os alunos com as piores pontuações (10% com as pontuações mais baixas) diminuiu a matemática, mas não se alterou significativamente a leitura ou a ciências. A matemática, o desempenho de quase todos os alunos diminuiu, mas o desempenho dos alunos com as pontuações mais elevadas diminuiu mais do que o dos alunos com desempenho mais fraco.

Em Portugal, 70% dos alunos atingiram, pelo menos, o nível 2 de proficiência a matemática (média da OCDE: 69%). No mínimo, estes alunos são capazes de interpretar e reconhecer, sem recurso a instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (p. e., comparar a distância total de dois percursos alternativos ou converter preços numa moeda diferente). Mais de 85% dos alunos de Singapura, Macau (China), Japão, Hong Kong (China), Taipé Chinês e Estónia (por ordem decrescente de percentagem) obtiveram um desempenho neste nível ou superior.

Cerca de 7% dos alunos em Portugal obtiveram os melhores resultados a matemática, o que significa que atingiram o nível 5 ou 6 no teste PISA de matemática (média da OCDE: 9%). Seis países e economias asiáticos registaram as maiores percentagens de alunos com este desempenho: Singapura (41%), Taipé Chinês (32%), Macau (China) (29%), Hong Kong (China) (27%), Japão (23%) e Coreia (23%).

Nestes níveis, os alunos são capazes de modelar matematicamente situações complexas e de selecionar, comparar e avaliar estratégias adequadas de resolução de problemas para lidar com essas situações. Só em 16 dos 81 países e economias que participaram no PISA 2022 é que mais de 10% dos alunos atingiram o nível 5 ou 6 de proficiência.

Em Portugal, 75% dos alunos afirmaram que, na maioria das aulas de matemática, o professor demonstra interesse pela aprendizagem de cada aluno (média da OCDE: 63%) e 79% afirmaram que o professor oferece ajuda extra quando os alunos precisam (média da OCDE: 70%).

Em 2012, as percentagens correspondentes foram de 78% e 83%. Os resultados de matemática em 2022 tenderam a diminuir menos, em média, nos sistemas educativos em que mais alunos declararam que os professores dão ajuda adicional quando os alunos precisam, em comparação com dez anos antes.

Alguns alunos estudam matemática num clima disciplinar que não é favorável à aprendizagem: em 2022, cerca de 17% dos alunos em Portugal indicaram que não conseguem trabalhar bem na maioria ou em todas as aulas (média da OCDE: 23%); 25% dos alunos não ouvem o que o professor diz (média da OCDE: 30%); 34% dos alunos distraem-se com dispositivos digitais (média da OCDE: 30%); e 25% distraem-se com outros alunos que estão a utilizar dispositivos digitais (média da OCDE: 25%). Em média, nos países da OCDE, os alunos têm menos probabilidades de se distraírem com dispositivos digitais quando a utilização de telemóveis nas instalações da escola é proibida.

5% com nível superior em leitura e excelente em ciências

O desempenho em leitura nos países com um desempenho acima da média da OCDE diminuiu, com exceção do Japão, da Coreia, de Taipé e da Itália. O desempenho nos países que se situam na média da OCDE diminuiu, com exceção de Israel. De igual modo, o desempenho nos países abaixo da média da OCDE diminuiu, com exceção da Sérvia, do Uruguai, do Brunei, do Qatar, do Peru, da Guatemala, do Paraguai, da República Dominicana, das Filipinas e do Camboja.

Cerca de 77% dos alunos em Portugal atingiram o nível 2 ou superior a leitura (média da OCDE: 74%). No mínimo, estes alunos são capazes de identificar a ideia principal num texto de extensão moderada, encontrar informação com base em critérios explícitos, embora por vezes complexos, e refletir sobre a finalidade e a forma dos textos quando explicitamente solicitados a fazê-lo.

A percentagem de alunos de 15 anos que atingiram níveis mínimos de proficiência em leitura (nível 2 ou superior) variou entre 89% em Singapura e 8% no Camboja. Em Portugal, 5% dos alunos obtiveram um nível 5 ou superior a leitura (média da OCDE: 7%). Estes alunos são capazes de compreender textos extensos, lidar com conceitos abstratos ou contraintuitivos e estabelecer distinções entre factos e opiniões, com base em pistas implícitas relativas ao conteúdo ou à fonte da informação.

A média da OCDE caiu quase 14 pontos em literacia matemática e cerca de 10 em leitura, em comparação com o PISA 2018. As quedas sem precedentes em matemática e leitura apontam para o efeito de choque da Covid-19 na maioria dos países. Em verdade, a deterioração do desempenho em matemática entre 2018 e 2022 seguiu-se a uma década e meia de desempenho estável. Porém, as trajetórias já se tinham tornado negativas depois de 2012.

O desempenho em ciências dos países com resultados acima da média da OCDE diminuiu, com exceção de Singapura, Japão, Macau, Taipé, Coreia, Hong Kong, Austrália, Irlanda, Suíça, República Checa, Letónia, Dinamarca e Áustria. O desempenho nos países da média da OCDE diminuiu igualmente, com exceção da Hungria, da Lituânia e da Croácia.

O desempenho nos países abaixo da média da OCDE diminuiu de igual modo, com exceção da Itália, Turquia, Malta, Israel, Sérvia, Brunei, Chile, Uruguai, Qatar, Roménia, Cazaquistão, Peru, Argentina, Arábia Saudita, Panamá, Geórgia, Guatemala, Paraguai e República Dominicana.

Cerca de 78% dos alunos em Portugal atingiram o nível 2 ou superior a ciências (média da OCDE: 76%). No mínimo, estes alunos são capazes de reconhecer a explicação correta para fenómenos científicos familiares e conseguem utilizar esse conhecimento para identificar, em casos simples, se uma conclusão é válida com base nos dados fornecidos.

Em Portugal, 5% dos alunos obtiveram um desempenho excelente a ciências, o que significa que obtiveram níveis de proficiência 5 ou 6 (média da OCDE: 7%). Estes alunos são capazes de aplicar, de forma criativa e autónoma, os seus conhecimentos de e sobre ciência a uma grande variedade de situações, incluindo as não familiares.

9% de alunos resilientes a matemática

As disparidades socioeconómicas e de género nas lacunas de desempenho não se alteraram entre 2018 e 2022. E apenas quatro sistemas educativos, nomeadamente o Japão, a Coreia, a Lituânia e Taipé, podem ser considerados resilientes no que diz respeito ao desempenho em matemática, à equidade e ao bem-estar.

O índice do estatuto económico, social e cultural do PISA é calculado de forma que todos os alunos que realizam o teste PISA, independentemente do país onde vivem, possam ser colocados na mesma escala socioeconómica. Isto significa que é possível utilizar este índice para comparar o desempenho de alunos de meios socioeconómicos semelhantes em diferentes países.

Em Portugal, 32% dos alunos (a maior parte) estavam no quintil internacional superior da escala socioeconómica, o que significa que estavam entre os alunos mais favorecidos que realizaram o teste PISA em 2022. A sua pontuação média a matemática foi de 522 pontos. Na Estónia e no Japão, os alunos com contextos socioeconómicos semelhantes tenderam a obter resultados significativamente mais elevados.

O índice do estatuto económico, social e cultural do PISA também pode ser utilizado para ordenar os alunos dos mais desfavorecidos para os mais favorecidos dentro de cada país e economia, e para criar quatro grupos de alunos de igual dimensão (cada um compreendendo 25% da população de alunos de 15 anos em cada país/economia).

Em Portugal, os alunos socioeconomicamente mais favorecidos (os 25% com melhor situação socioeconómica) superaram os alunos desfavorecidos (os 25% com pior situação socioeconómica) em 101 pontos a matemática. Esta diferença é semelhante à diferença média dos países da OCDE (93 pontos). Entre 2012 e 2022, o fosso no desempenho a matemática entre os 25% mais elevados e os 25% mais baixos em termos de estatuto socioeconómico manteve-se estável em Portugal, bem como na média dos países da OCDE.

O estatuto socioeconómico foi um fator preditor do desempenho a matemática em todos os países e economias participantes no PISA. Foi responsável por 18% da variação no desempenho a matemática no PISA 2022 em Portugal (em comparação com 15% na média dos países da OCDE).

Cerca de 9% dos alunos desfavorecidos em Portugal obtiveram resultados no quarto superior da escala de desempenho a matemática. Estes alunos podem ser considerados academicamente resilientes porque, apesar da sua desvantagem socioeconómica, alcançaram a excelência educativa em comparação com os alunos do seu próprio país. Em média, nos países da OCDE, 10% dos alunos desfavorecidos obtiveram resultados no quarto superior da escala de desempenho a matemática nos seus próprios países.

Género, estatuto migratório e desempenho

Os rapazes superaram as raparigas a matemática em 11 pontos; as raparigas superaram os rapazes a leitura em 21 pontos em Portugal. Globalmente, a matemática, os rapazes superaram as raparigas em 40 países e economias, as raparigas superaram os rapazes noutros 17 países ou economias, e não foi encontrada qualquer diferença significativa nos restantes 24. A leitura, as raparigas obtiveram, em média, resultados superiores aos dos rapazes em todos os países e economias que participaram no PISA 2022, à exceção de dois (79 em 81).

Em Portugal, a percentagem de alunos com baixos níveis de desempenho é semelhante entre rapazes (29%) e raparigas (31%) a matemática; a leitura, no entanto, a percentagem é maior entre os rapazes (19% das raparigas e 27% dos rapazes obtiveram resultados abaixo do nível 2 a leitura).

No que diz respeito aos melhores desempenhos, a percentagem é maior entre os rapazes (8%) do que entre as raparigas (5%) a matemática; a leitura, no entanto, a percentagem é semelhante entre as raparigas (5% das raparigas e 4% dos rapazes obtiveram resultados de nível 5 ou 6 a leitura). Entre 2012 e 2022, o desempenho a matemática diminuiu de forma semelhante entre rapazes e raparigas em Portugal.

Os alunos imigrantes são definidos como alunos cujos pais nasceram num país/economia diferente daquele em que o aluno realizou o teste PISA. Os alunos de origem imigrante podem ser distinguidos entre imigrantes de primeira e de segunda geração. Os imigrantes de primeira geração são aqueles que também nasceram fora do país de avaliação; os alunos de segunda geração são alunos nascidos no país de avaliação, mas cujos pais nasceram fora do país de avaliação.

A percentagem de alunos imigrantes aumentou em Portugal para 11% em 2022 (7% em 2012). Em 2022, 7% dos alunos de 15 anos eram imigrantes de primeira geração, ou seja, nasceram noutro país/economia e as suas famílias mudaram-se para Portugal apenas nos últimos anos. Entre estes alunos imigrantes de primeira geração, 17% chegaram a Portugal com 5 anos ou menos; 56% chegaram depois dos 12 anos, e após terem concluído o ensino básico noutro sistema de ensino.

Os alunos imigrantes e não imigrantes em Portugal tendem a ter um perfil socioeconómico semelhante; enquanto 25% de todos os alunos são considerados socioeconomicamente desfavorecidos, a percentagem correspondente entre os alunos de origem imigrante é de 27%. Cerca de 27% dos alunos imigrantes (e 2% dos restantes alunos) referiram que a língua que falam em casa na maior parte do tempo é diferente da língua em que realizaram o teste PISA.

A matemática, a diferença média de desempenho entre alunos imigrantes e não imigrantes foi de 32 pontos a favor dos alunos não imigrantes, uma diferença significativa. Tendo em conta o perfil socioeconómico dos alunos, observou-se uma diferença significativa de 25 pontos a favor dos alunos não imigrantes.

A leitura, a diferença média de desempenho entre alunos imigrantes e não imigrantes foi de 22 pontos a favor dos alunos não imigrantes, uma diferença significativa. Tendo em conta o perfil socioeconómico dos alunos, observou-se uma diferença significativa de 15 pontos a favor dos alunos não imigrantes.

4% de alunos inseguros na sala de aula em Portugal

Em 2022, 76% dos alunos em Portugal afirmaram que fazem amigos com facilidade na escola (média da OCDE: 76%) e 82% disseram que se sentem parte da escola (média da OCDE: 75%). Enquanto isso, 10% relataram que se sentem sozinhos na escola e 11% se sentem excluídos ou não participam das atividades da escola (média da OCDE: 16% e 17%). Em comparação com 2018, o sentido de pertença à escola por parte dos alunos não registou alterações significativas em Portugal.

A satisfação dos alunos com a vida, de uma forma mais geral, diminuiu em muitos países e economias nos últimos anos. Em 2022, 12% dos alunos em Portugal reportaram que não estavam satisfeitos com as suas vidas: classificaram a sua satisfação com a vida entre 0 e 4 numa escala de 0 a 10. Em 2018, aproximadamente a mesma proporção de alunos não estava satisfeito com a vida (12%). Em média, nos países da OCDE, a percentagem de alunos que não estão satisfeitos com a vida aumentou de 11% em 2015 para 16% em 2018 e 18% em 2022.

Os dados do PISA 2022 mostram que, nos sistemas educativos em que o desempenho se manteve elevado e o sentimento de pertença dos alunos melhorou, estes tendem a sentir-se mais seguros e menos expostos ao bullying e a outros riscos na sua escola.

Em Portugal, 5% dos alunos afirmaram não se sentir seguros a caminho da escola (média da OCDE: 8%); 4% dos alunos afirmaram não se sentir seguros nas salas de aula (média da OCDE: 7%); 5% dos alunos afirmaram não se sentir seguros noutros locais da escola (por exemplo, corredor, refeitório, casa de banho - média da OCDE: 10%).

Cerca de 15% das raparigas e 13% dos rapazes afirmaram ter sido vítimas de bullying pelo menos algumas vezes por mês (média da OCDE: 20% das raparigas e 21% dos rapazes). Em média, nos países da OCDE, menos alunos foram expostos ao bullying em 2022 em comparação com 2018: por exemplo, apenas 7% dos alunos relataram que outros alunos espalharam rumores desagradáveis sobre eles em 2022, em comparação com 11% em 2018. Também em Portugal, as proporções correspondentes diminuíram (6% em 2022, em comparação com 7% em 2018).

Professores e escolas com nota positiva na pandemia

Os dados do PISA recolhidos junto dos diretores das escolas mostram que a percentagem de pais envolvidos na escola e na aprendizagem diminuiu substancialmente entre 2018 e 2022 em muitos países/economias. Este foi também o caso em Portugal.

Em 2022, 47% dos alunos em Portugal estavam em escolas cujo diretor relatou que, durante o ano letivo anterior, pelo menos metade de todas as famílias discutiu o progresso dos seus filhos com um professor por sua própria iniciativa (e 70% por iniciativa do professor).

Em 2018, o número correspondente foi de 60% (e 70%). Os sistemas que registaram tendências mais positivas no envolvimento parental entre 2018 e 2022 (ou seja, sistemas em que a percentagem de pais que discutiram o progresso dos seus filhos com um professor por iniciativa própria diminuiu menos) tenderam a apresentar um desempenho mais estável ou melhorado a matemática.

Em Portugal, 42% dos alunos referiram que o edifício da sua escola esteve encerrado durante mais de três meses devido à COVID-19. Em média, nos países da OCDE, 51% dos alunos sofreram encerramentos escolares igualmente longos. Nos sistemas educativos em que o desempenho se manteve elevado e o sentimento de pertença dos alunos melhorou, foi menor a proporção de alunos que sofreram encerramentos escolares mais prolongados.

Durante o ensino a distância, 24% dos alunos em Portugal tiveram problemas, pelo menos uma vez por semana, para compreender as tarefas escolares e 17% dos alunos tiveram dificuldades em encontrar alguém que os pudesse ajudar com os trabalhos escolares (médias da OCDE: 34% e 24%). Nos sistemas educativos em que o desempenho se manteve elevado e o sentimento de pertença dos alunos melhorou, menor proporção de alunos reportaram ter tido problemas durante o ensino a distância.

O apoio dado para o bem-estar dos alunos foi frequentemente limitado quando as suas escolas estavam fechadas. Em Portugal, 73% dos alunos indicaram que recebiam apoio diário através de aulas virtuais em direto num programa de comunicação por vídeo. Apenas 12% dos alunos referiram que lhes era perguntado diariamente, por alguém da escola, como se sentiam (médias da OCDE: 51% e 13%).

Se, no futuro, os edifícios escolares tiverem de voltar a encerrar, muitos alunos da OCDE indicaram sentir-se confiantes em utilizar a tecnologia digital para aprender a distância, mas menor proporção de alunos indicou sentir-se confiantes em assumir a responsabilidade pela sua própria aprendizagem.

Cerca de 85% dos alunos em Portugal reportaram sentir-se confiantes ou muito confiantes em utilizar um programa de comunicação por vídeo e 66% dos alunos reportaram sentir-se confiantes ou muito confiantes em motivar-se para fazer o trabalho escolar (médias da OCDE: 77% e 58%).

Falta de pessoal docente prejudicou

As despesas com a educação estão relacionadas com o desempenho dos alunos apenas até certo ponto. Entre os países/economias cuja despesa acumulada por aluno, ao longo de todos os anos do ensino primário e secundário entre os 6 e os 15 anos de idade, era inferior a 75 000 USD (PPC) em 2019, uma despesa mais elevada com a educação estava associada a resultados mais elevados no teste PISA de matemática.

Mas o mesmo não se verificou entre os países/economias cuja despesa acumulada foi superior a 75 000 USD (PPC). Para este último grupo de países/economias, a forma como os recursos financeiros são utilizados parece ser mais importante para o desempenho dos alunos do que o nível de investimento na educação. Em Portugal, a despesa acumulada por aluno, ao longo de dez anos, entre os 6 e os 15 anos, foi equivalente a cerca de 99 000 USD (PPC).

Em cerca de metade de todos os países/economias com dados comparáveis, em 2022, os diretores das escolas eram mais propensos do que os seus homólogos em 2018 a declarar uma escassez de pessoal docente. Este foi também o caso de Portugal. Em 2022, 62 % dos alunos em Portugal estavam em escolas cujos diretores reportaram que a capacidade da escola para lecionar era prejudicada pela falta de pessoal docente (e 27 %, por pessoal docente inadequado ou pouco qualificado).

Em 2018, as percentagens correspondentes foram de 32% e 23%. Na maioria dos países/economias, os alunos que frequentavam escolas cujos diretores referiram falta de pessoal docente obtiveram resultados mais baixos a matemática do que os alunos de escolas cujos diretores referiram menos ou nenhuma falta de pessoal docente.

No teste PISA em 2022, 73% dos alunos de 15 anos em Portugal estavam matriculados no 10º ano. Em Portugal, 95% dos alunos indicaram ter frequentado o ensino pré-escolar durante um ano ou mais anos (média da OCDE: 94%). Em média, nos países da OCDE, os alunos que frequentaram o ensino pré-escolar durante um ano ou mais obtiveram melhores resultados a matemática aos 15 anos de idade do que os alunos que nunca frequentaram o ensino pré-escolar ou que o frequentaram durante menos de um ano, mesmo tendo em conta fatores socioeconómicos.

Cerca de 17% dos alunos em Portugal indicaram ter repetido um ano de escolaridade pelo menos uma vez (média da OCDE: 9%) após a entrada no ensino básico. A repetência tende a ser menos frequente nos sistemas de elevado desempenho.

Em Portugal, 37% dos alunos frequentavam uma escola em que os diretores eram os principais responsáveis pela contratação dos professores (média da OCDE: 60%) e 81% estavam matriculados numa escola em que os professores eram os principais responsáveis pela escolha dos materiais didáticos a utilizar (média da OCDE: 76%). Muitos sistemas de ensino com elevado desempenho tendem a confiar estas responsabilidades aos diretores e aos professores.

No capítulo da alimentação, em média, nos países da OCDE, 8,2% dos estudantes afirmaram não ter comido pelo menos uma vez por semana nos 30 dias anteriores, por não terem dinheiro suficiente para comprar comida. Três países registaram as percentagens mais baixas (menos de 3%) destes estudantes: Portugal (2,6%), Finlândia (2,7%) e Países Baixos* (2,8%).

Diretores também responderam a questionário

Para melhorar a resiliência dos sistemas educativos a OCDE apresenta dez ações que os países podem seguir: 1.  Evitar encerramentos de escolas prolongados; 2. Preparar os alunos para uma aprendizagem autónoma; 3. Construir bases sólidas para a aprendizagem e o bem-estar; 4. Limitar as distrações dos dispositivos digitais e 5. Reforçar as parcerias entre a escola e a família.

As outras cinco medidas são: 6. Atrasar a idade de seleção; 7. Fornecer apoio adicional aos alunos com dificuldades e reduzir a repetição de ano; 8. Assegurar pessoal e material adequados e de elevada qualidade; 9. Estabelecer as escolas como centros de interação social e 10. Combinar a autonomia da escola com mecanismos de controlo da qualidade.

O ciclo PISA 2022 centrou-se na matemática, com a leitura e as ciências como áreas secundárias e o pensamento criativo como área inovadora de avaliação. O PISA 2022 também incluiu uma avaliação da literacia financeira dos jovens, que era opcional para os países e as economias. Os resultados relativos ao pensamento criativo e à literacia financeira serão publicados em 2024. Os alunos realizaram dois testes de uma hora, cada um dedicado a um domínio.

Foram dadas, a diferentes alunos, diferentes perguntas do teste e diferentes combinações de domínios (p. ex., matemática seguida de leitura, ou ciências seguidas de matemática, etc.). Os itens do teste eram uma mistura de perguntas de escolha múltipla e perguntas que exigiam que os alunos construíssem as suas próprias respostas. Os alunos também responderam a um questionário de contexto, que demorou cerca de 35 minutos a ser preenchido. O questionário procurava obter informações sobre os próprios alunos, as suas atitudes, disposições e crenças, as suas casas e as suas experiências escolares e de aprendizagem. Os diretores das escolas responderam a um questionário sobre a gestão, a organização e o ambiente de aprendizagem da escola.

Portugal participou pela primeira vez no PISA em 2000. A próxima edição do PISA está marcada para 2025 e a sua avaliação vai medir até que ponto os países preparam os seus alunos para uma compreensão da ciência e de como a ciência produz conhecimento confiável. O foco do PISA 2025 serão as competências científicas e as competências em ciências ambientais.