Crianças com direitos apenas no papel

22-11-2016

Crianças com direitos apenas no papel
Nestes tempos aziagos em que vivemos, e passados que estão 27 anos de vigência da Convenção dos Direitos da Criança, importa elevar bem alto a defesa dos seres humanos mais vulneráveis e indefesos. Por tudo o que se está a passar à nossa volta, não é cliché nem lugar-comum invocar o poema "Liberdade" de Fernando Pessoa, enfatizando o excerto: "Mas o melhor do mundo são as crianças"

Comemorou-se neste domingo (20 de novembro) a aprovação, em 1989, da Convenção sobre os Direitos da Criança.

A sua especial vulnerabilidade ditou a especial proteção que através deste documento se lhes procurou dar.

Uma proteção que volvidos estes anos nos deve levar a refletir sobre a verdadeira realidade com que as crianças se confrontam hoje e que questiona as nossas consciências a cada dia que passa.

É confrangedor o silêncio e a inércia com que todos os dias assistimos às mais horrendas e bárbaras atrocidades que sobre si são cometidas e violações aos seus direitos. Há que despertar as nossas consciências.

Há hoje 385 milhões de crianças que vivem na pobreza extrema e mais de 50 milhões de crianças deslocadas no Mundo devido a guerras, violência e perseguições. Destas, 31 milhões tinham abandonado os seus países, o que as leva a separarem-se da sua própria família, e 17 milhões estavam deslocadas dentro do seu próprio país.

Urge acabar com este sofrimento. É inadmissível expor seres tão frágeis a tamanho sofrimento.

Ao assinalar esta data, o SPZC ergue também a sua voz ao lado de todos os que a nível mundial reclamam a alteração deste estado de coisas. Basta de hipocrisia e de defesa de direitos formais.

Não é possível a defesa de qualquer princípio de igualdade num Mundo marcado por tanta desigualdade. Pela violência contra os frágeis dos mais frágeis, contra os pobres que vivem em situações de miséria, pela fome, pela ausência de uma moradia digna, onde a saúde e a educação são privilégios e não direitos de todos e para todos. É urgente acordarmos. Esta é uma responsabilidade de todos e que nos deve interpelar a cada um de Nós

O melhor do Mundo são as crianças na lição profunda e intemporal do Poeta e como escreveu Maria Montessori: "O menino, com seu enorme potencial físico e intelectual, é um milagre diante de nós. Este facto deve ser transmitido a todos os pais, educadores e pessoas interessadas em crianças, porque a educação desde o início da vida pode realmente mudar o presente e o futuro da sociedade." Acrescentamos nós: desta sociedade, deste nosso Mundo tão desigual e insensível, onde continua a pulular a demagogia e escasseiam soluções.

Coimbra, 21 de novembro de 2016
A Direção do SPZC