<![CDATA[Notícias]]> https://fne.pt Sun, 02 Nov 2025 01:40:55 +0000 Sun, 02 Nov 2025 01:40:55 +0000 (fne@fne.pt) fne@fne.pt Goweb_Rss http://blogs.law.harvard.edu/tech/rss <![CDATA[Desburocratizar para ensinar: a urgência que o sistema educativo já não pode ignorar.]]> https://fne.pt/pt/blog/detail/id/27 https://fne.pt/pt/blog/detail/id/27 Outubro foi um mês em que a burocracia voltou a ocupar o centro do debate educativo.

O relatório TALIS 2024 da OCDE veio confirmar aquilo que todos reconhecemos: Portugal tem professores altamente competentes, dedicados e entre os mais satisfeitos com a profissão. Contudo, há uma sombra persistente que ameaça comprometer o essencial, a burocracia excessiva que consome tempo, energia e motivação.


A Federação Nacional da Educação (FNE) tem sido uma das vozes mais firmes na denúncia deste problema estrutural e, mais do que o denunciar, decidiu agir. Com o lançamento da plataforma simplicare.pt, a FNE quer ouvir diretamente professores e dirigentes escolares, identificando os procedimentos que consomem tempo sem acrescentar valor, para que possam ser simplificados ou eliminados. Em paralelo, a Consulta Nacional promovida pela FNE veio reforçar este alerta, evidenciando o agravamento da burocracia e a persistência de más condições de trabalho nas escolas portuguesas.

Os dados do TALIS 2024 são inequívocos: o excesso de tarefas administrativas está entre as três principais fontes de stress dos docentes portugueses. Muitos professores referem que a carga burocrática limita o tempo disponível para preparar aulas, trabalhar em equipa e investir na sua formação contínua, aspetos essenciais numa profissão que exige atualização permanente.

Mas as consequências vão ainda mais longe. O bem-estar e a retenção de profissionais estão em risco: quase um terço dos docentes mais jovens admite ponderar abandonar a carreira nos próximos cinco anos, apontando a burocracia como um dos fatores decisivos dessa intenção.

A FNE sublinha que esta sobrecarga não é apenas uma questão de conforto laboral, mas um problema de qualidade e de eficiência educativa. Cada hora perdida em tarefas redundantes é uma hora retirada aos alunos, ao planeamento e à inovação pedagógica.

Importa reconhecer que a burocracia tem uma função legítima, ao garantir transparência e organização. O problema surge quando se transforma num fim em si mesma, alimentando uma cultura de controlo e desconfiança que tolhe a autonomia e desvaloriza o profissionalismo docente.

Desburocratizar, como defende a FNE, é devolver tempo, confiança e autonomia aos educadores e professores e, em última análise, valorizar o ensino e quem o concretiza todos os dias. É, pois, tempo de o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) assumir que simplificar é valorizar. O TALIS 2024 é claro, a FNE é persistente e as escolas confirmam: há burocracia a mais e tempo a menos.

É urgente uma vontade política firme, expressa em medidas concretas, que devolva aos docentes o tempo e a serenidade necessários para se dedicarem ao essencial: ensinar.


Porto, 24 de outubro de 2025


Pedro Barreiros

Secretário-Geral da FNE



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Fri, 24 Oct 2025 00:00:00 +0100
<![CDATA[Valorizar a profissão docente é a melhor forma de combater a falta de professores.]]> https://fne.pt/pt/blog/detail/id/26 https://fne.pt/pt/blog/detail/id/26

Todos os anos, quando se inicia um novo ano letivo, regressa também um tema que há demasiado tempo marca a agenda educativa: a falta de professores. O problema repete-se, agrava-se e parece não encontrar resposta estrutural. Não se trata de uma surpresa ou de uma realidade súbita. Há mais de duas décadas que a FNE alerta para os riscos de uma profissão desvalorizada, marcada pela estagnação salarial, pela ausência de perspetivas de carreira e pela falta de atratividade para os mais jovens.


Já em 2002 a FNE dizia com clareza: “Não há professores a mais, há respostas educativas a menos.” Mas esse alerta foi ignorado pelos sucessivos governos. Hoje, as consequências estão à vista: uma classe docente envelhecida, a saída do sistema de ensino de milhares de professores e educadores e a incapacidade de atrair jovens em número suficiente para responder às necessidades da Escola Pública. Só na próxima década, mais de 4.000 docentes aposentar-se-ão anualmente, colocando o sistema educativo perante um desafio ainda maior.

É verdade que têm sido tomadas algumas medidas para atenuar a carência de professores. Contudo, revelam-se insuficientes face à dimensão do problema. O que continua a faltar é uma visão política de longo prazo e a coragem para concretizar as soluções que há muito estão identificadas: uma revisão justa e profunda do Estatuto da Carreira Docente, o reconhecimento integral de todo o tempo de serviço, uma valorização salarial efetiva, condições e respeito pelos limites do tempo de trabalho, exigência e rigor no cumprimento de regras e tolerância zero para atos de indisciplina e violência escolar, autonomia profissional e a redução da burocracia que afasta os professores da sua verdadeira missão: ensinar.

Um exemplo claro encontra-se na formação inicial de professores. A procura existente demonstra que é possível formar mais docentes, mas o Governo continua a não conseguir abrir vagas suficientes para responder as necessidades do futuro. Este bloqueio compromete não só a renovação geracional como também a qualidade da Educação.

A pergunta impõe-se: será possível iniciar um ano letivo sem notícias de falta de professores? A resposta é sim! mas apenas quando houver uma mudança estrutural na forma como se encara a profissão docente e se planificam as necessidades do sistema educativo. Enquanto se insistir em medidas avulsas, temporárias e insuficientes, o problema continuará a repetir-se.

É urgente valorizar a profissão docente em todas as suas dimensões: melhorar salários, reposicionar os docentes no escalão a que têm direito, rever o modelo de avaliação, garantir estabilidade profissional, assegurar condições de trabalho dignas e motivadoras. Paralelamente, é indispensável repensar a formação inicial e contínua, tornando-as mais atrativas e ajustadas às necessidades do sistema educativo e de cada um dos docentes.

Sem estas mudanças estruturais, Portugal corre o risco de perder professores e afastar potenciais candidatos. Só através da valorização efetiva da carreira docente será possível assegurar a renovação geracional, a estabilidade das escolas e a qualidade da educação. O país precisa de coragem política para colocar a Educação no centro das prioridades nacionais.

Só assim será possível preparar devidamente cada ano letivo e garantir que deixamos de iniciar setembro com a mesma notícia de sempre: a falta de professores.

 

Porto, 8 de setembro de 2025

 

Pedro Barreiros
Secretário-Geral da FNE

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Mon, 08 Sep 2025 00:00:00 +0100
<![CDATA[2024-2025 em retrospetiva e 2025-2026 em perspetiva: A urgência de valorizar a educação]]> https://fne.pt/pt/blog/detail/id/25 https://fne.pt/pt/blog/detail/id/25

Chegados ao final do ano letivo 2024‑2025, é tempo de fazermos um balanço do caminho percorrido e de projetarmos o que queremos para o próximo ano que se aproxima, 2025‑2026.


A consulta nacional promovida pela FNE e pela AFIET entre 13 e 27 de junho permitiu recolher a opinião de mais de quatro mil e seiscentos docentes de todos os níveis de ensino e os resultados desta auscultação são claros e incontornáveis.

 

Este foi o ano em que, graças ao acordo alcançado pela FNE, conseguimos recuperar parte do tempo de serviço que nos havia sido congelado. Este avanço contribuiu de forma decisiva para melhorar o ambiente vivido nas escolas e nas salas de professores de todo o país, devolvendo-nos a esperança de voltar a ter uma carreira digna e valorizada. No entanto, sabemos que o caminho está longe de concluído e que ainda há muito por resolver e conquistar.

Ao longo do ano que agora termina sentimos um agravamento do excesso de trabalho que recai sobre cada profissional, acompanhado por uma carga burocrática esmagadora que desvia tempo e energia daquilo que é verdadeiramente essencial: o ensino e a relação pedagógica com os alunos. Verificámos que a esmagadora maioria dos inquiridos se sente mal remunerada em comparação com a exigência e responsabilidade da profissão e que, embora quase todos afirmem gostar do que fazem e encontrem realização pessoal no exercício da docência, muitos não recomendariam esta carreira aos jovens, um sinal preocupante da sua falta de atratividade.

Acrescenta‑se a estas dificuldades o aumento dos problemas de indisciplina nas escolas, alimentados por fatores diversos que vão desde a falta de apoio das famílias até à incapacidade de resposta das estruturas administrativas. Por outro lado, emerge o desafio trazido pelas novas tecnologias e pela utilização da inteligência artificial, que muitos ainda não se sentem preparados para integrar e avaliar de forma crítica. Também a formação contínua, que tantos reconhecem como essencial, permanece insuficiente e, muitas vezes, depende do esforço e do investimento pessoal de cada docente. Estes dados obrigam‑nos a agir de forma determinada e responsável.

O próximo ano letivo tem de ser encarado como um momento decisivo. É nesta perspetiva que a FNE irá intensificar a negociação com o Ministério da Educação, Ciência e Inovação para alcançar soluções concretas que valorizem a carreira docente e que reduzam a burocracia, garantindo tempo para o que realmente importa: ensinar, aprender e construir relações humanas sólidas. Queremos um plano de valorização profissional que inclua melhores salários, a correção de injustiças na carreira, melhores condições de trabalho, mas também medidas de reconhecimento profissional como o cartão do professor que permita aceder a bens e serviços culturais e educativos e ainda benefícios fiscais que possam contemplar os custos que cada um assume para o exercício da profissão, tais como: alojamento, deslocações, materiais pedagógicos e formação, entre outros.

Defendemos igualmente uma revisão urgente do Estatuto do Aluno e de outras normas que influenciam o funcionamento das escolas, para reforçar a autoridade pedagógica e melhorar o clima escolar, sem esquecer a necessidade de envolver as famílias e o MECI nesta tarefa comum. Outro eixo prioritário será o reforço da formação contínua, sobretudo na área digital, para que ninguém fique para trás perante as mudanças tecnológicas em curso e para que o uso de ferramentas de inteligência artificial se faça de forma pedagógica e ética. A valorização dos trabalhadores de apoio educativo continuará igualmente no centro das nossas propostas, com o roteiro que levaremos aos candidatos às eleições autárquicas no contexto da campanha eleitoral deste ano, visando melhores salários, carreiras mais justas e incentivos à formação.

Aos que diariamente asseguram com empenho e dedicação a qualidade das nossas escolas: Educadores, Professores, Técnicos e Assistentes, dirigimos uma palavra de reconhecimento pelo esforço e resiliência demonstrados neste ano letivo. Renovamos o compromisso da FNE de continuar a lutar por uma Educação de qualidade, que valorize quem nela trabalha e assegure a todas as crianças e jovens condições dignas para aprender e crescer. Sabemos que o caminho é exigente, mas sabemos também que a união e a mobilização de todos farão a diferença no futuro que queremos construir.


Com votos de umas férias bem merecidas e retemperadoras.

  

Pedro Barreiros
Secretário-Geral da FNE




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Thu, 31 Jul 2025 00:00:00 +0100
<![CDATA[A Escola Pública Merece +]]> https://fne.pt/pt/blog/detail/id/24 https://fne.pt/pt/blog/detail/id/24 Avaliação com Justiça, Transparência e Confiança:
A Escola Pública Merece +

A recente divulgação da prova final de Matemática do 9.º ano, nas redes sociais, gerou alarme público e comentários diversos. Contudo, concentrar o debate apenas na “fuga de informação” seria perder de vista o verdadeiro problema: a estratégia errada do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) de reutilizar itens da mesma prova em anos consecutivos e, consequentemente, não tornar pública a prova.


Esta decisão não é apenas tecnicamente arriscada. É reveladora de uma visão centralizadora da avaliação, que procura transformar as provas nacionais numa ferramenta de monitorização do sistema, ignorando a sua dimensão pedagógica. Reutilizar o mesmo instrumento avaliativo para comparar anos, medir tendências e, eventualmente, classificar escolas e práticas, é desconsiderar por completo a natureza viva, mutável e contextual da aprendizagem, bem como a própria instabilidade estrutural a que a escola está sujeita com mudanças legislativas, curriculares e organizacionais constantes.

Como se costuma dizer, a pior regra é aquela que sabemos não conseguir fazer cumprir. O MECI esqueceu-se disto. E, ao fazê-lo, abriu a porta a um conjunto de efeitos perversos, incluindo a descredibilização do processo avaliativo e a redução do espaço de confiança entre os vários agentes educativos.

Mais grave ainda é a forma como o MECI reagiu à situação ao afirmar que a divulgação da prova “não compromete a sua validade”, revelando-se mais preocupado com a manutenção do controlo do que com a garantia de credibilidade, transparência e justiça no processo. Não se pode aceitar esta lógica.

A avaliação deve ser um momento de justiça, não um exercício de controlo opaco. Deve respeitar os direitos dos alunos, pais e professores ao acesso ao enunciado, aos critérios de classificação, à consulta da sua prova e à possibilidade de pedido de reapreciação após a consulta da prova. São direitos fundamentais que não podem ser relativizados em nome de uma lógica de eficiência burocrática.


Este episódio levanta questões sérias
:

·       Porque se insiste em ocultar informação que, por princípio, deve ser pública?

·       Como se garante o direito dos alunos à impugnação, se lhes é negado o acesso aos instrumentos que os avaliam?

·       Como se pode confiar num sistema que não respeita os seus próprios princípios?


Mesmo que o caso concreto venha a revelar um impacto reduzido nos resultados, que só o tempo dirá, o precedente é perigoso. Porque ameaça direitos, porque esvazia garantias e porque evidencia uma gestão política onde os erros cometidos são evitáveis, mas nem por isso corrigidos.

As provas finais não podem ser transformadas em instrumentos de vigilância disfarçada. Precisam de ser construídas com rigor, mas também com sensibilidade e justiça. A escola pública não se governa com base em tabelas de Excel. Governa-se com diálogo, com proximidade às escolas, com respeito pelo trabalho dos professores e com confiança na comunidade educativa.

Tenho dificuldade em concordar com esta visão mais limitada da avaliação. Monitorizar o sistema não pode significar sufocar a autonomia, restringir direitos ou desvalorizar os princípios democráticos da escola pública. Reutilizar provas como se fossem ferramentas neutras de medição não é apenas pedagogicamente pobre, é politicamente perigoso.

É fundamental que o MECI reveja com urgência esta estratégia e que envolva as associações profissionais, sindicais e outras entidades relevantes na reconstrução de um modelo de avaliação que seja transparente, justo e pedagogicamente sólido.

Controlar desta forma a Educação é limitar o seu potencial transformador. A Educação constrói-se com confiança, com responsabilidade e com visão de futuro. Tudo o resto é retrocesso.

 

Porto, 22 de junho de 2025

 

Pedro Barreiros

 

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Sun, 22 Jun 2025 00:00:00 +0100
<![CDATA[A Comunicação Social: Guardiã da Verdade ou Instrumento de Manipulação?]]> https://fne.pt/pt/blog/detail/id/23 https://fne.pt/pt/blog/detail/id/23

Vivemos numa era em que a informação é abundante, instantânea e, paradoxalmente, profundamente manipulável.

A comunicação social (imprensa, rádio, televisão, plataformas digitais) é, sem dúvida, um dos pilares das sociedades modernas. Mas até que ponto cumpre verdadeiramente o seu papel de informar de forma isenta e construtiva? E quando é que deixa de ser reflexo da realidade para se transformar num veículo que seleciona, distorce ou omite factos ao serviço de interesses específicos?


É uma questão desconfortável, mas necessária
.

A comunicação social não se limita a transmitir factos. Ela interpreta-os, escolhe a forma como são apresentados, decide que vozes terão visibilidade e quais serão ignoradas. Essa construção editorial é, por natureza, um ato de poder. Ao decidir qual o destaque de uma notícia e o que ficará escondido nas entrelinhas, ou sequer será noticiado, a comunicação molda o que chamamos de opinião pública. Mas até que ponto essa opinião é genuinamente pública? Não será, muitas vezes, fabricada conforme interesses privados, políticos ou económicos?

Um dos sinais mais evidentes dessa tendência está na forma como diferentes atores sociais e políticos são tratados. Uns são apresentados de forma positiva, com destaque e simpatia editorial. Outros, por sua vez, são sistematicamente retratados de forma negativa, reduzidos a estereótipos, mal interpretados ou, simplesmente, ignorados. E raramente se explicam os critérios por detrás dessa diferença de tratamento. O público consome a informação sem compreender o que levou aquele ator a ser valorizado e outro a ser descredibilizado.

É evidente que muitos órgãos de comunicação têm uma linha editorial. Isso, por si só, não é necessariamente negativo. Ter uma visão clara do mundo pode significar coerência. O problema surge quando essa visão é disfarçada sob uma aparência de neutralidade. Quando a suposta imparcialidade serve para mascarar escolhas estratégicas e omissões intencionais. Quando o dever de informar cede lugar à vontade de influenciar.

Não se trata de culpar jornalistas individualmente, mas de questionar um sistema. Um sistema onde grandes grupos de media concentram poder, onde algoritmos favorecem o que gera cliques em vez do que esclarece, onde a urgência de ser o primeiro a noticiar compromete a verificação dos factos. Um sistema que simplifica a complexidade do mundo para alimentar narrativas fáceis, fomentando divisões e alimentando preconceitos, muitas vezes sem que o leitor ou o espectador perceba quem define o rumo dessas narrativas.

Impõe-se a pergunta: ao serviço de quem está, de facto, a comunicação social? Do cidadão ou de interesses ocultos por trás das manchetes? E que papel podemos nós desempenhar neste cenário?

Talvez o primeiro passo seja exatamente este: questionar. Duvidar, cruzar fontes, procurar o que não é dito, confrontar discursos. Informar-se com espírito crítico é, hoje, um ato de resistência. E exigir uma comunicação social mais transparente, ética e plural é um dever coletivo em nome da democracia e da verdade.

Porque, em última análise, a comunicação social pode ser tanto uma aliada da liberdade como uma ferramenta de alienação. A escolha e a vigilância cabem a cada um de nós.


Porto, 4 de junho de 2025


Pedro Barreiros




As opiniões expressas neste espaço são da inteira responsabilidade do autor.




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Wed, 04 Jun 2025 00:00:00 +0100